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"NÃO TEMAS"
No Evangelho, nenhuma mensagem é tão enfática e nem repetida tantas vezes quanto o apelo “não temas”. O medo é o maior sinal da falta de amor.
A passagem do papa Francisco pelo Brasil, na semana passada, já é um marco na história do catolicismo e, talvez, na das religiões. Exceto os festivais hinduístas, como o Khumba Mela, que a cada doze anos chega a reunir até 70 milhões de devotos, não se viu nas últimas décadas uma demonstração de fé tão grande e tão densa quanto a que emergiu da Jornada Mundial da Juventude realizada no Rio de Janeiro. O êxito do evento, no entanto, tem menos a ver com números e celebrações do que com a substância que lhe foi adicionada pela mensagem e pela postura do papa.
Francisco falou à sua igreja, mas seu recado tocou ao coração e à consciência de todos os que os professam alguma fé. Seu ponto forte: o resgate do sentido original e da força do Evangelho cristão, ocultado e adulterado na prática diária das religiões e dos religiosos em um mundo pontuado pelo egoísmo e a escravidão.
Não é novidade, no contexto cristão, exortar os crentes a expressar sua fé pelas obras, livrar-se do clericalismo e a manifestar seu amor em partilha com os pobres. Este é um ensinamento literal de Jesus para quem o reino (isto é, a bem-aventurança) é a recompensa natural de quem é capaz de alimentar o faminto, vestir o nu, acolher o sem teto, aliviar o doente e visitar o prisioneiro, conforme o registro do evangelista Mateus.
A primeira igreja, a do Caminho, erguida por Pedro à margem de uma estrada, fazia isso noite e dia. Se trocamos essa experiência basilar pelas versões contemporâneas das igrejas-empresas e do evangelho da prosperidade individual é porque nos deixamos enredar pela pulsão egóica e sua mensagem permanente de carência e medo.
É significativo que, em quase todas as suas falas no Rio, o papa tenha pedido aos católicos e, sobretudo aos jovens, para não terem medo. No Evangelho, nenhuma advertência é tão enfática e nem repetida tantas vezes: “Não temas”. E aqui, mais uma vez, nos encontramos diante de um ensinamento essencial para todas as religiões nesses dias de sorrateiro materialismo espiritual.
Impressiona-me o fato de encontrarmos justamente entre os que professam alguma fé tantas pessoas contidas pelo medo, encarceradas em seu mundo mesquinho de projetos pessoais, sempre assustadas com fantasmas que rondam suas fortalezas vulneráveis. Sem o saber, realimentam a roda do temor - alicerce de um mundo corrupto baseado em “necessidades” e consumo - e fortalecem todas as formas e níveis de violência, a expressão reativa do medo.
O medo patológico de nossos dias é a grande sinalização da escassez de amor em nós e nas estruturas sociais que sustentamos, o que torna o apelo de Francisco urgente e indispensável.
Deus é amor e onde há amor não há medo, dizia o apóstolo João. Podemos acrescentar: não há também injustiça e nem violência, pois é da coragem do amor que nasce um mundo equânime e pacífico.