Meu pequeno conto de Natal
Postado em 23 Dec 2016 04 51 Textos Anteriores











Então, como Machado de Assis em seu soneto,  
sou personagem impotente ante a folha branca,  
resignado ante o talento que não me acode  


por JOMAR MORAIS


É Natal e, em vão, busco na montanha de símbolos descartados a inspiração que me levasse a escrever um conto com a marca do coração. Sei, é desejo pretensioso que excede o limite de quem nasceu para a “literatura apressada” do jornalismo. Mas é Natal e, apesar de tudo, ouso sonhar com um texto menos liso, enfeitado de gotas de afeto.

As emoções se embaralham no labirinto das lembranças, mas das teclas que se agitam nenhuma poesia se alevanta. O presépio, o pastoril, os sinos e o sacro canto... A quermesse, a roupa nova, a ceia ampla... Tudo emerge e se dissipa, pois a mente insiste em trazer-me ao hoje. O texto duro em que me expresso, indiferente, aprisiona-me ao turbilhão do ano.

Então, como Machado de Assis em seu soneto, sou personagem impotente ante a folha branca, resignado ante o talento que não me acode. E vencido, sem o brilho da prosa ou do verso, sem pretensões recorro ao velho mote para não deixar que me escape a oportunidade: “Mudaria o Natal ou mudei eu?”, pergunto e respondo como posso, sem a luminância do vate, mas sincero.

O Natal mudou e quase nada tem a ver com os da minha infância e menos ainda com o mais antigo, de Belém. Mas este ano, acho, foi eu quem mudou mais. Fui além. 
Em 2016, adoeci e perdi 20 quilos. A certa altura, incerto e combalido, cheguei a pensar que meus natais estavam idos e esta crônica apenas imaginada. Mas agora, pleno e ousando o que não posso, olho pra trás e de novo encontro na linha torta a divina mão escrevendo minha história.

Ninguém curte adoecer. Eu também. Mas a doença também cura e é necessária para soltar hábitos e liberar-nos para a vida que, persistente, nos chama a novos palcos. Desacelerar e adaptar-se ao corpo, reeducar-se e nutrir-se à melhor forma foram coisas que aprendi na fragilidade. Magrinho, agora estou forte e mais saudável, mas nada disso se compara ao grande achado de ressignificar pessoas, o amor e a amizade.

Com o humor alterado e arredio, vi a família ficar mais próxima e mais terna, sem nada esperar em recompensa. Isso é amor, acho. Tenho certeza! Poucos amigos se fecharam em intenso apoio, paciente, efetivo e constante. E isso é amor, apelidado de amizade, que mais cresceu em contraponto com o receio ou a indiferença de quem ama a utilidade.

Página virada, sombra desfeita, vejo de novo o Sol de um  ano lindo, que me trouxe presentes inolvidáveis. O mochilão na Palestina e Israel: Jerusalém, Hebron, Jericó... A Galileia desértica levando-me à epifania, em Cafarnaum e no “mar” de tantos feitos.

O livro novo e as comemorações do Sapiens, em 15 anos de missão entre amigos. Os “Cuidadores de Francisco” na madrugada, fazendo amigos entre os irmãos carentes. Novo Jornal, o jornalismo inovador. A juventude provocando-me em meu ocaso. Filosofia e Encontro com o Silêncio, na reversão do barulho e do estresse. Messe de fé e amor, colheita farta, entre corações e mentes.

E um ano assim em que a luz, em sã rotina, dissolveu suavemente a escuridão, só podia terminar em um desejo com a imensa força da gratidão:

FELIZ NATAL, amigos e leitores! FELIZ ANO NOVO, de coração!

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 20/12/16 ]

Veja os vídeos da TV Sapiens na Terra Santa: Belém, Jerusalém, Galileia, Hebron, Jericó. Acesse > www.youtube.com/sapiensnatal

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