Quem tem medo de eleição?
Postado em 17 Jun 2016 01 30 Textos Anteriores












Estamos vivendo uma crise política e institucional  
gigantesca e, diante de tal descalabro, nenhum  
conchavo de gabinete pode nos livrar do caos  



por JOMAR MORAIS


Um leitor e amigo a quem prezo envia-me mensagem a propósito de meu texto “Eu quero votar. E você?”, aqui publicado em 17 de maio. Ele é contra eleição presidencial antecipada por achar que, no momento, não existem “candidatos confiáveis” e teme que uma escolha errada dos eleitores conduza o país a uma nova ditadura militar.

É uma opinião respeitável, emitida por alguém na plenitude de seus direitos, mas impressiona-me a mudança de postura do emitente. 

Meu leitor e amigo, que há dois meses defendia o impeachment da presidenta Dilma Rousseff - realizado na contramão da justiça, sob o comando de um réu da Lava Jato, o deputado Eduardo Cunha -, agora pede cautela. Da mesma forma que, na TV, o antes agressivo Aécio Neves, também investigado por corrupção, fala em generosidade e união dos brasileiros e, nos jornais e outdoors, Michel Temer sugere que ninguém mais fale em crise, apenas trabalhe.

Então pensei: existiria no rol de pré-candidatos à Presidência da República alguém menos confiável que o interino Temer e seus ministros investigados por corrupção? Haveria políticos menos confiáveis que a atual cúpula do PMDB, depois de tudo o que se sabe sobre tais figuras há décadas, agora consolidado pelas gravações e delações de Sérgio Machado?

Temos uma crise colossal que corrói a política e os poderes da República, abrangendo até o STF, que estranhamente manteve Cunha na presidência da Câmara durante o encaminhamento do impeachment, apesar do pedido de afastamento do deputado feito pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, e que agora reluta em prender, também a pedido de Janot, o presidente do Senado Renan Calheiros e um dos articuladores do impeachment, Romero Jucá, ambos acusados de corrupção. 

Diante do descalabro, nenhuma fórmula arrumada em conchavos de gabinete nos livrará do caos. Só a manifestação popular, em eleições livres precedidas de amplo debate, pode dar ao país um governo legítimo e instituições decentes e confiáveis.

A proposta de uma nova eleição, apesar de já aceita por Dilma Rousseff, encontra resistências à direita e à esquerda, nos partidos que travam sua guerra pelo poder e buscam juntos a impunidade – do PT ao PSDB -, nos representantes sindicais expulsos de seus nichos no governo, nos candidatos a presidente convencionais (inclusive Lula), que veem melhores chances numa disputa em 2018, ao fim de um governo ilegítimo e desastroso, e nas forças que assaltaram o Estado através do impeachment, aí incluídos os banqueiros, parte do empresariado e os donos da grande mídia. Todos pensando em preservar seus interesses e ampliar ganhos, mandando às favas o interesse nacional e a estabilidade político-social do país.

Na verdade, votar já para presidente deve ser o primeiro de muitos passos envolvendo o povo, numa perspectiva de reconstrução de nossas instituições. Uma Constituinte, vários plebiscitos e uma ampla reforma política dariam sequência à varredura institucional. 

Isso é o mínimo a esperar num cenário de democracia. A alternativa é a treva do governo de corruptos ou a das aventuras autoritárias.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 14/06/16 ]


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JOMAR MORAIS
21 Jun 2016 01 03
Grato pela leitura e pelo comentriao, carssima Mrcia Filgueira.
Mrcia Filgueira
17 Jun 2016 10 03
Bravssimo!
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