A lótus, a utopia e o diabo
Postado em 30 Mar 2016 23 28 Textos Anteriores









No céu de cada utopia existe uma lótus inspiradora.  
Enquanto a cultivamos, a utopia vige, mas  sempre  
existirá o risco de o ideal ser tragado pelo pântano.  


por JOMAR MORAIS


A FLOR DE LÓTUS nasce e vive na lama, mas permanece imaculada. Ainda hoje, a ciência não sabe explicar o que leva a planta a repelir microorganismos e até partículas de pó. A flor de lótus é um símbolo da pureza e da sabedoria.

No oriente, de onde é nativa, é considerada uma flor sagrada. Santos e gurus aparecem sentados sobre suas pétalas macias, inabaláveis em posturas meditativas. 
Ser como a lótus é um ideal e uma meta para o homem justo e compassivo. A lama da condição humana, feita de desejos e apegos perturbadores, não é maior que a determinação de transcender a compulsão egóica, mantendo-se coração e mente acima das águas lodosas. É indispensável conviver com as energias primordiais do pântano, de onde emerge a vida, mas sem desviar-se da intenção de transmutá-las em limpidez e beleza.

A UTOPIA é o lugar que não existe, mas precisa ser buscado para que a vida se complete e o homem se redima. É a civilização ideal, sonho que se sonha acordado, além do medo e dos vícios. 

Foi o escritor inglês Thomas More quem cunhou o termo, em 1516, ao nomear o livro (“Utopia”) em que narra uma sociedade perfeita, igualitária na distribuição dos bens sociais, num lugar novo e puro. More, entusiasmado com a descrição de Américo Vespúcio sobre a recém-descoberta ilha de Fernando de Noronha, imaginou a possibilidade de reinventar a civilização numa paisagem ainda intocada pela ganância.

Na verdade, em todos os tempos existiram utopias e foram elas que nos trouxeram até aqui – a este nosso mundo maravilhoso e cruel. Sonhando o impossível em “um lugar que não existe”, visionários, santos e guerreiros ultrapassaram limites, enfraqueceram poderes e romperam hábitos e, assim, nos ajudaram a conquistar mais conforto e dignidade na convivência entre os homens, em que pese o saldo de iniquidade ainda resistente nas estruturas sociais e nos corações endurecidos.

Penso que no céu de cada utopia paira uma flor de lótus inspiradora. Enquanto a cultivamos com a nossa crença e o zelo de nossas atitudes, a utopia vige e o sonho, a pouco e pouco, vai se tornando realidade. Mas sempre existirá o perigo de ser tragado pelo pântano. 

A história comprova que as utopias se mantém vivas enquanto o sonho é maior que o utilitarismo e os valores mais importantes que o pragmatismo. A ansiedade, a avidez, a pressa e a esperteza sempre trabalharam contra os melhores ideais, sepultando-os na cova rasa dos interesses mesquinhos de indivíduos e grupos.

Esquecer que a lótus tem raízes nas águas lodosas pode ser fatal para qualquer projeto de mudança.

É nesse estágio que o diabo aparece e as alianças espúrias se estabelecem ao preço do sacrifício da pureza e da beleza. Satanás oferece facilidades e acena com domínios, convence o coração ansioso a trocar o caminho longo pelo atalho curto, distrai a inteligência enquanto aperta o cerco. Um dia –  e isso é tão certo quanto o nascer do Sol! – ele se impõe e rouba a vida da alma aprisionada.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 29/03/16 ]

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Darence
11 May 2016 22 23
Jody - You always seem to find the nicest places to go and get away, where is this? I have to agree, the colors of Fall were beuufital this year or maybe I just never took time to notice them in the past!!
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