Pais, filhos e o tempo
Postado em 11 Nov 2015 20 29 Textos Anteriores














Nesta foto de 1959, pareço incomodado com o sol  
forte sobre o antigo Estádio Juvenal Lamartine, mas  
estou seguro ao lado de meu super-herói  


por JOMAR MORAIS


Meu pai completou 90 anos de idade ontem. A expectativa de vida do brasileiro é de 75 anos – três anos mais que em 2005 e o dobro do que vivia, em média, um brasileiro no início do século passado. Logo, chegar aos 90 com razoável lucidez e saúde, como chegou seu João Tavares de Morais, o velho Tidão dos tempos heróicos do ABC Futebol Clube, é uma conquista que excede e alegra familiares e amigos.

Olho para meu pai nonagenário e me impressiono com o efeito do tempo sobre pais e filhos. 

Não me refiro às mudanças em nossos corpos nem aos papéis que assumimos em decorrência dessas alterações. O que me sensibiliza é a mudança da imagem que tínhamos de nossos pais – ou filhos -,  aparentemente tão verdadeira e sólida no tempo em que a forjamos num determinado contexto de conhecimentos, crenças e valores. Com base nela agimos e reagimos no círculo das relações familiares, sorrimos ou choramos e nos consideramos afortunados ou infelizes sem nos darmos conta de que, quase sempre, estivemos entretidos apenas com nossos desejos, inabilitados para reconhecer e apreciar o outro.

O tempo é nosso grande aliado na jornada para a sabedoria e, no que diz respeito às relações pais e filhos, costuma ser preciso e ágil. Dizem que aos 7 anos o filho vê seu pai como um super-herói, um todo-poderoso que tudo sabe e tudo resolve. Aos 14, no fervor da adolescência e da ânsia de afirmação (necessária à diversidade e à evolução da vida), já descrê e rebela-se contra o que antes o maravilhava. Aos 35, formado e estabilizado, embriagado no próprio orgulho, pode imaginar que seu pai perdeu o senso. Mas, com certeza, redescobrirar o valor e a habilidade de seu velho quando as mutações do casamento e da paternidade lhe baterem à porta. Aos 60, provavelmente, como eu, poderá admitir que, em sua simplicidade, seu pai é o cara.

Não há como avaliar a alegria ou a dor, a perspicácia e  o bom senso e, sobretudo, as limitações do outro senão experimentando, interagindo com a vida em situações assemelhadas. Palavras e conceitos são insuficientes para romper o casulo de nosso egocentrismo e da tola ideia de que nos bastamos.

Também os pais, em seu duro aprendizado, precisam do tempo para entender que os filhos pertencem à vida e são livres para traçar o próprio caminho, cabendo-lhes a tutoria temporária sem expectativa de projeção pessoal no filho ou de retribuição a qualquer título. E aqui, outra vez, a experiência e a interação, com ou sem dor, será o instrumento que nos resgatará da prisão do egoísmo para os vôos altos e prazerosos do amor incondicional e do senso de dever cumprido.

Olho para meu pai nonagenário e, com os olhos da maturidade, já não vejo o super-herói incólume de minha infância nem o homem de ideias ultrapassadas de minha juventude. Vejo um homem pleno e digno de nossas homenagens. Alguém que, em meio às refregas da vida, soube curtir e amar, doar-se à família e fazer amigos (só amigos!), sem registros de mágoas que destroem a alegria. Meu pai é um sábio.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 10/11/15 ]

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Basil
19 Dec 2015 07 34
The puhesarcs I make are entirely based on these articles.
Clinson
18 Dec 2015 00 21
The paragon of unneistandrdg these issues is right here!
Riromia
17 Dec 2015 10 22
es um kerido!!!ja tinha visto isto antes, mas so agora tive um tepnhmio dakeles k se leva na internet a ver tudo e mais alguma coisa..e so tive esse tepnhmio pk tnh um trabalho pra fazer, o meu consciente encarrega se de arranjar me tepnhmios kd tnh trabalhos.. fodido o gajo! no natal vou te ver, tenho carro :Dbeijola
Jomar Morais
18 Nov 2015 04 24
João Pequeno é grande, caro Jorge.
Jorge Braúna
17 Nov 2015 13 02
Seu pai me fez lembrar da sabedoria do Mestre João Pequeno. "O homem mais valente foi aquele que fez mais amigos"
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