O mal e o remédio
Postado em 01 Apr 2015 18 03 Textos Anteriores










O copiloto Andreas Lubitz antes do  
surto que provocou a morte de 150 pessoas:  
distúrbio neuroquímico ou doença da alma?  

  

por JOMAR MORAIS


O caso do copiloto alemão Andreas Lubitz, que na semana passada provocou, de propósito, a queda de um avião da Germanwings na França, é mais um acontecimento dramático que traz à tona o drama e os riscos das pessoas que sofrem de depressão e ansiedade. 

Um clichê corrente elevou esses  transtornos gêmeos (deprimidos são também ansiosos) à condição de mal do século, por estarem se espalhando com características de epidemia, especialmente em países ricos. Mas a sua abordagem pela mídia – a exemplo do que acontece na prática médica - tem sido marcada por um reducionismo científico que nos desvia de aspectos cruciais da questão.

O modelo médico vigente, fortemente influenciado pela indústria farmacêutica, vê a depressão e a ansiedade como distúrbios bioquímicos cerebrais e, nessa condição, passíveis de serem tratados apenas com a intervenção de drogas que estimulam ou reduzem a produção de certas substâncias pelo organismo.

A crença de que tais medicamentos são eficazes e seguros – embora suas próprias bulas listem efeitos colaterais dramáticos, inclusive surtos psicóticos – favorece uma situação de uso abusivo, com ou sem receita médica, cujas consequências são bem maiores do que supomos. Ainda está para ser contada a história oculta de muitos casos de suicídio e crimes violentos cometidos por pessoas aparentemente tranquilas e bem sucedidas...

Só depois da tragédia com o avião da Germanwings  ficamos sabendo que o jovem Andreas Lubitz, 27 anos, era deprimido e ansioso e tomava as drogas olanzapina (antipsicótico) e agomelatina (antidepressivo), fato que ele conseguiu esconder da empresa e de seus amigos até a hora em que não mais pôde conter sua pulsão agressiva.

Estava Andreas recebendo o tratamento adequado? Não sou psiquiatra e não tenho elementos para proceder a uma avaliação médica de seu caso. Estava ele seguindo a orientação de seu médico ou arriscou-se no campo da automedicação? Não sabemos.

O ponto de nosso texto, porém, não é o tratamento psiquiátrico mas a sua exclusividade nos casos de ansiedade e depressão, dois sintomas que transcendem o nível bioquímico e nos remetem ao mundo dos símbolos e dos valores, ao reino imaterial da mente, seus padrões e fixações.

Na abordagem médica ou jornalística, falta a pergunta simples e inquietante: por que a ocorrência de tais males avança com o aumento do individualismo, do pragmatismo e da  competitividade e se mantém baixa em comunidades que mantêm viva a interação e a solidariedade entre as pessoas? Por que tais males decolam com o materialismo e quase inexistem onde há senso de espiritualidade e comunhão com a natureza?

Que me desculpem os médicos, mas continuo acreditando, com os sábios e santos, que o melhor remédio para  depressão e ansiedade será sempre o amor e a abnegação, a vida vivida sem apegos e com espírito de serviço, sem o horizonte estreito de quem só vê o próprio umbigo.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 31/03/15 ]

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Jorge Braúna
02 Apr 2015 00 07
Triste episódio Jomar. A depressão parece ser um efeito da nosso modelo de vida que agride nossa própria humanidade.
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