Óbvio. E ululante.
Postado em 07 Apr 2016 02 20 Textos Anteriores












A centralidade dada ao dinheiro e a necessidade  
de financiamento criou na política um espaço  
de corrupção generalizada. Existe alternativa?  


por JOMAR MORAIS


Vai ter impeachment? Vai ter golpe? Não vai ter golpe?

Depois da declaração do ministro Luis Roberto Barroso, do STF, a um grupo de estudantes na semana passada, passei a achar que nenhuma das perguntas acima é tão importante quanto aquela que se impôs naturalmente, a partir da fala do ministro: vai ter solução?

"A política morreu porque nós temos um sistema político que não tem o mínimo de legitimidade democrática”, disse Barroso. “Ele deu uma centralidade imensa ao dinheiro e à necessidade de financiamento e se tornou um espaço de corrupção generalizada". 

Depois o ministro admitiu que exagerou e disse que a política só está “gravemente enferma”. Mas foi além: 

"Quando anteontem o jornal exibia que o PMDB desembarcou do governo e mostrava as pessoas que erguiam as mãos, eu olhei e disse: Meu Deus do céu! Essa é nossa alternativa de poder. (…) O problema da política, nesse momento, é a falta de alternativa: não tem para onde correr. Isso é um desastre porque, numa sociedade democrática, política é um gênero de primeira necessidade”.

As palavras de Barroso me impactaram. Por saber que quase tudo neste país se deixou contaminar pelas paixões e interesses que envolvem a atual disputa de poder, minha reação foi perguntar: a quem serve esta declaração?

Vi a notícia primeiro na TV Globo, líder da  campanha pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, e de pronto questionei se a fala do ministro não seria o argumento que faltava para a uma “solução final”, ortodoxa - um golpe escancarado, daqueles que fecham o Congresso e implantam a censura porque a política deixou de ser importante. 

Teria sido uma suspeita assim o que levou os blogs de esquerda a minimizarem a fala de Barroso? Talvez. Além disso, apesar do tiroteio dos adversários, é na política, e não fora dela, que a presidenta acuada vê a chance de  preservar o mandato que lhe foi confiado pelo voto.

Mais aí li um jornalista da Veja, fervoroso em seus ataques ao PT, desconstruindo a imagem de Barroso – a quem chamou de cupincha do governo - pelo fato de sua fala ferir Michel Temer, Eduardo Cunha e o PMDB numa hora em que a prioridade seria afastar Dilma, e  logo percebi que é preciso olhar e avaliar de mais alto as palavras do ministro.

Barroso jogou o holofote de sua autoridade sobre algo que é claro como a luz do dia, embora se teime em ocultá-lo. Falou do óbvio, o óbvio ululante, aquele que grita para ser percebido: a centralidade do dinheiro na política, com o financiamento privado das campanhas, e os artifícios enxertados nas leis para favorecer e manter impunes grupos e corporações, criaram na sociedade um espaço generalizado de corrupção e desvios que só uma reforma radical da Constituição, do sistema político e dos códigos legais poderá corrigir, reinventando nossas instituições.

Para isso não se faz necessário a ditadura – protetora dos interesses vis nas sociedades amordaçadas -, mas o exercício de uma democracia plena, participativa, capaz de autocriticar-se continuamente e aperfeiçoar-se sem atropelar  a ordem e o direito.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 05/04/16 ]

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Sable
15 May 2016 14 27
Great comments and sentiments everyone! As I sit here with my shot of whiskey on ice, I rock to and fro to the words of my Adele cd and I sing to Ane1#&8230;.&#822y;Whdn was the last time you thought of me…have you completely erased me from your memory? Don’t you remember, don’t you remember….the reason you left me before….baby please remember me once more…. LOL! http://yqywbsa.com [url=http://cwedfkgb.com]cwedfkgb[/url] [link=http://jwsyqit.com]jwsyqit[/link]
Joyelle
14 May 2016 13 28
"The American chief executive has a great deal of power"He only has power because lots of people, especially in uniform and carrying weapons, will unosuetiqningly obey him.
Bette
11 May 2016 21 02
Yo creo que el anónimo tiene un punto válido. Si bien es cierto que el gobierno no está cumpliendo al 100%, también lo es que somos demasiado pasivos y juega de vivos. Según oí en la TV, era usual que los pasajeros se bajaran del autobus antes de que este cruzara, como medida de pr.a³uciÃcn.e. ¿por qué no se hizo esta vez?
Jomar Morais
08 Apr 2016 01 38
Grato pelo comentrio lcido, que agrega valor a esta coluna. Grande abrao, Aldenir!
ALDENIR
07 Apr 2016 20 01
timas colocaes.

H poucos dias, o presidente do IPEA, Jess Souza, afirmou que essa crise poltica tem a ver, sobretudo,com dinheiro.
Dinheiro de uma seleta elite econmica que compra e controla setores da poltica, mdia, justia e, pasmem, at da cincia para validar um estado de coisas.

Educao seria a sada, mas seria ingenuidade achar que esta no est maculada por este sistema perverso.

E Paulo Freire continua, juntamente com Clerice Lispector, conquistando espao, nas citaes do facebook.

Para mim, resta a esperana na complexidade humana e nos espaos para a contradio que a educao, por mais ortodoxa que seja, proporciona.
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