O valor das coisas
Postado em 21 May 2015 14 54 Textos Anteriores











A maturidade é necessária para que   
percebamos o valor das coisas, discernindo  
entre o que detemos e o que possuímos  


por JOMAR MORAIS


Acordo pensando nas coisas que nos cercam e pelas quais, tantas vezes, nos desgastamos para reter e desfrutar, em meio à ansiedade e o medo. Percebo a diferença de avaliá-las na juventude e na velhice. A maturidade, mesmo quando estamos mergulhados na fatuidade de uma vida materialista, adiciona uma pitada de bom senso à apreciação daquilo que temos ou queremos ter. O tempo sempre corrói as ilusões.

Levanto e, encontro sobre a mesa o livro “Ter ou Não Ter, Eis a Questão”, de autoria do rabino e filósofo Nilton Bonder. Abro-o ao acaso e deparo-me com um texto precioso sobre a propriedade e a posse que arremata minhas reflexões imprecisas com a clareza de um sábio. Sento, e já não tenho dúvida: por que digitar meus próprios juízos sobre as coisas, se agora tenho ouro puro para compartilhar com os meus leitores? Ei-lo:

“A vida é percebida pelo ser humano como um comodato. O efeito maior da consciência é que o ser humano percebe a realidade da vida como a cessão de direitos  por um período que não excederá os 120 anos. (…)

“Com o passar do tempo de uma vida, as “coisas” tendem a valer menos. Essa experiência é importante porque irá revelar nuances do “ser” e do “ter” que antes ficam osfuscadas pelo valor exponencial das “coisas” para o jovem. É legítimo o apego do jovem pelas “coisas”, uma vez que elas, em sua utilidade, parecem se confundir com a experiência de “ser”. A propriedade é, assim, confundida com a posse. 

“(...) Muitas vezes se torna patético para um indivíduo maduro deparar-se com um jovem arrogante por conta de propriedades que toma como posses. Somente a consciência da finitude da vida expõe as nossas propriedades à prova de se são ou não possessões. Se forem, poderão ser levadas deste mundo e escaparão à valoração relativa ao tempo restante para o final do comodato da vida.

“O que estamos dizendo tem implicações diretas sobre a riqueza. A riqueza não diz respeito a quanto temos, mas ao que possuímos. O “ter” está relacionado à propriedade, e o “ter ou não ter”, relacionado à posse. O primeiro diz respeito à retenção e à guarda das coisas. O segundo, à interação entre um indivíduo e o uso das coisas. Rico não é aquele que tem coisas, mas aquele que faz uso de coisas. Quanto mais uso tiver das coisas e delas dispuser, mais rico. 

“(...) A posse é um produto da existência e é a materialidade da existência. Cada um de nós sabe o quanto possui. Não há manuais nem receitas. Pode-se possuir muito com uma vida baseada em lazer e amizades ou na dedicação a uma obra. Pode-se possuir tanto com poucas propriedades como com muitas. Há magnatas que ao construir sua vida e fortuna interagem profundamente com o mundo e muito possuem. Há pobres que se protegem do risco e do esforço e pouco possuem. Há magnatas que nada ou pouco levarão deste mundo, e despojados com invejáveis bagagens de posses e que deste mundo muito levarão.”

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 19/05/15 ]

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