Impermanência, lei da vida
Postado em 29 Apr 2015 19 46 Textos Anteriores












O concreto das formas emerge  
do abstrato da consciência e a ele  
retorna em movimentos cíclicos  


por JOMAR MORAIS


As imagens do terremoto no Nepal doeram em mim um pouco mais do que na maioria dos brasileiros. É natural. É da condição humana que a compaixão seja maior quando dirigida àqueles que conhecemos. 

Estive no Nepal há 90 dias e encantei-me com a riqueza cultural e religiosa do país e a generosidade de sua gente, pacífica e hospitaleira, apesar das vicissitudes que machucam as pessoas no cotidiano de um país pobre e sem infraestrutura. 

Aprendi muito com os nepaleses. E continuo a aprender. Desde o último sábado, o Nepal me instiga a meditar na impermanência, a natureza inconstante de todas as coisas no eterno movimento da vida. 

Não há forma que não se decomponha, não há poder  - inclusive os dos soberbos reinos do antigo Nepal - que não venha a ser reduzido a pó pelo tempo ou pela fúria dos fenômenos telúricos. Não há celebridades cujo orgulho e vaidade não se desintegrem nos ventos da mutação.

Meditar na impermanência é nos liberarmos de seu domínio. É livrar-nos dos referenciais que nos dão a ilusão que escapamos à natureza cíclica das coisas para, em seguida, nos atirar ao sofrimento do confronto com a realidade.

Como diria a monja budista Pema Chödren, comportamo-nos “como pessoas em um barco que está se despedaçando, tentando nos agarrar à água. O fluxo dinâmico, energético e natural do universo não é aceitável para a mente convencional”. Ainda assim, diante da dor do Nepal e de outras dores, podemos ser salvos ou aliviados pela poesia de um gênio, como Rabindranath Tagore:

“Irmão, nada é eterno, nada sobrevive. Recorda isto, e alegra-te. 

“A nossa vida não é só a carga dos anos. A nossa vereda não é só o caminho interminável. Nenhum poeta tem o dever de cantar a antiga canção.  A flor murcha e morre; mas aquele que a leva não deve chorá-la sempre… Irmão, recorda isto, e alegra-te.

“Chegará um silêncio absoluto, e, então, a música será perfeita. A vida inclinar-se-á ao poente para afogar-se em sombras doiradas. O amor há-de ser chamado do seu jogo para beber o sofrimento e subir ao céu das lágrimas… Irmão, recorda isto e, alegra-te.

“Apanhemos, no ar, as nossas flores, não no-las arrebate o vento que passa. Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos roubando beijos que murchariam se os esquecessemos. É ânsia a nossa vida e força o nosso desejo, porque o tempo toca a finados. Irmão recorda isto, e alegra-te.

“Não podemos, num momento, abraçar as coisas, parti-las e atirá-las ao chão. Passam rápidas as horas, com os sonhos debaixo do manto. A vida, infindável para o trabalho e para o fastio, dá-nos apenas um dia para o amor. Irmão, recorda isto, e alegra-te.

“Sabe-nos bem a beleza porque a sua dança volúvel é o ritmo das nossas vidas. Gostamos da sabedoria porque não temos sempre de a acabar. No eterno está tudo feito e concluído, mas as flores da ilusão terrena são eternamente frescas, por causa da morte. Irmão, recorda isto e alegra-te.” 

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 28/04/15 ]

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Convido os meus amigos e leitores a conhecerem e colaborarem com
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Vamos ajudar os nepaleses? Aqui vai um modo de ser solidário, através de uma organização budista que atua no Nepal. As doações podem ser feitas via PayPal (já fiz a minha e asseguro: é simples e seguro!) no seguinte endereço:
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POR FAVOR INDIQUE O MOTIVO DA DOAÇÃO: 'Disaster Relief'

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Jomar Morais
30 Apr 2015 13 22
Obrigado, Graça Medeiros, pela gentileza da leitura e do comentário. Grande abraço.
Graça Medeiros
29 Apr 2015 23 51
Boa noite meu Amigo! Obrigada por compartilhar tão belo texto... Noite serena! Um abraço!
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