Próxima estação...
Postado em 15 Apr 2015 04 30 Textos Anteriores










Hieróglifos do antigo Egito: qualquer   
semelhança com a linguagem nas redes  
sociais pode não ser só coincidência  


por JOMAR MORAIS


Não é fácil fazer uma crítica de costumes, avaliar   mudanças sociais quando se tem mais de 60 anos. Mesmo que você não seja um saudosista, preso ao estilo e ao sucesso de seu passado – como eu -, seus julgamentos e projeções sempre serão influenciados pelos apegos e aversões sedimentados em décadas de vida. Você pode está aberto para o novo, abraçar novas tecnologias, incorporar novos hábitos, mas...

A tentação de comparar a aspereza de um aprendizado que começa com o conforto das coisas aprendidas é irresistível. Ah! no meu tempo...

Os milhões de anos da saga humana sobre a Terra devem ter transcorrido assim. Mas, com certeza, em nenhum  período essa tensão entre o novo e o velho, o aprendido e aquilo por aprender foi tão intensa quanto em nosso tempo de revoluções em série no conhecimento.

Pensando nisso, quando escrevo sobre a Internet e suas contínuas explosões no velho mundo analógico, sempre temo repetir a postura de analistas do século 19 diante da velocidade espantosa da locomotiva a vapor: 20 quilômetros por hora! Muita saliva e papel foram empregados para provar que aquilo era uma ameaça à sanidade humana.

Agora mesmo acompanho a revolução das redes sociais sem ter a menor condição de discernir o norte, a direção. Minha bússola enlouqueceu e o único consolo é o fato de que, no labirinto, não estou sozinho. Grandes corporações, inclusive as jornalísticas, como vimos na semana passada, tem sido golpeadas duramente pelas sucessivas mudanças de panorama que ameaçam seus investimentos em negócios digitais.

Preocupa-me, entre outras coisas, o detalhe de as redes sociais, o principal ponto de encontro das pessoas na Internet, aparentemente estarem destruindo o hábito e o prazer da leitura. É assustador saber que bilhões de pessoas não mais conseguem ir além de uma piscadela para uma foto ou a leitura de um título, embora cliquem “curti” sobre um conteúdo que desconhecem, apenas por conveniência social. A superficialidade, aliada à ansiedade, pode nos tornar um espécie cega, vulnerável a meia dúzia de manipuladores.

Mas será isso mesmo? Meus filtros sexagenários me deixam ver com clareza ou apenas me incomodo diante de um novo desafio? 

Por exemplo: será que a escrita usada na net, com abreviações e uso intensivo de emoticons (desenhos), está nos levando a um novo ciclo de escrita pictográfica,  como na antiguidade, ou a um alfabeto ideográfico, como o chinês? Talvez isso contribua para o resgate de um vínculo emocional perdido com a natureza. 

A prioridade dada à imagem, sobre o texto, poderá aumentar a nossa capacidade intuitiva e nos habilitar a perceber mais facilmente sentimentos e intenções?

Ou será que, em longo prazo, estamos caminhando para níveis mais altos de comunicação que incluem, talvez, a telepatia?

A próxima parada desse trem é uma incógnita. E se alguém disser que na próxima estação vai ter boi voando, sem hesitar, correrei para a janela.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 14/04/15 ]

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