Hermógenes e os presos
Postado em 18 Mar 2015 13 43 Textos Anteriores








O que você pensaria se este  
homem lhe dissesse: "Você é Deus"?  
Entenda a sabedoria dessa frase.   


por JOMAR MORAIS


Cinco anos atrás, surpeendi-me ao entrar no salão do Presídio Estadual de Parnamirim (PEP) onde eu me reunia, às terças-feiras, com um pequeno grupo de apenados para praticar meditação e refletir sobre a vida. O local estava repleto de prisioneiros levados pelos guardas porque naquela tarde teríamos uma visita especial. 

Minutos depois, acompanhado do então secretário de Justiça, Lauro Arruda Câmara, um velhinho de passos lentos e olhar vívido cruzou o salão e, após rápidas palavras do secretário, deu seu recado impactante, apesar da voz frágil, quase inaudível.

- Estou aqui para lhes dizer uma coisa muito importante: quero que saibam que vocês são Deus. Vocês são divinos.

Era o professor José Hermógenes, introdutor da yoga no Brasil, cuja leveza no falar jamais deixava transparecer que se estava diante de um homem que escrevera 30 livros reveladores, libertara milhares de pessoas do sofrimento egóico e, ao longo de uma vida, dera um exemplo constante de serenidade e tolerância.  

Até hoje costumo imaginar o que se passou, naquele momento, nas cabeças na platéia, exceto, talvez, um ou outro de meus alunos já íntimos com o profundo conteúdo místico e filosófico das palavras de Hérmogenes.

Para compreender a perplexidade da maioria, certamente, seria conveniente evocar uma outra frase do velho iogue nos seus tempos de corpo são: “Quando eu disse ao caroço de laranja que dentro dele dormia um laranjal inteiro, ele me olhou estupidamente incrédulo ”.

Naquela tarde, Hermógenes outra vez buscava despertar  os que dormem. Outra vez relembrava a Hanuman, o mítico e desmemoriado macaco da tradição hindu, a sua força, o seu poder.

Foi assim que, anos antes, tocando o coração e despertando a força de um condenado, através de um de seus livros, ele inspirara, no mesmo PEP, uma experiência de libertação coletiva, então apoiada por Lauro Arruda – o projeto Mente Livre. Uma semente cuja frutificação tentei levar adiante, sob o patrocínio da Pastoral Carcerária, até ela ser finalmente sufocada e removida pelas sombras que regem e se aproveitam do caos no sistema penitenciário.

Deus em mim. Deus em você. Namastê! Ou, traduzindo a conhecida saudação em sânscrito: o Deus que há em mim saudando o Deus que há em você. Nenhum chororô. Nenhuma autocomiseração.

É o esquecimento dessa verdade, ensinada explícita ou veladamente por todas as tradições espirituais, que está na base do reinado do egoísmo, com todos os seus medos, carências, apatias, vícios e violências. E a obra de Hermógenes – a yoga como filosofia e estilo de vida e não apenas como ginástica – é toda um sussurro para ativar a memória de nosso Hanuman interno, resgatando a força do amor que tudo cria, tudo sustenta e tudo transforma. 

Não há plenitude sem percepção do Uno. Não há mudança sem aceitação. Não há realização sem entrega. Não há felicidade sem gratidão.

Ao benfeitor que nos deixou na sexta-feira passada, nosso obrigado. Namastê, Hermógenes!

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 16/03/15 ]



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Parlin
17 Dec 2015 09 52
claudinei lopes disse:gostei muito das pregae7oes do rv. samuel fierrera, asisto pela televisao, um dia eu creio eu vou na igreja, adbras, sou do parana na cidade de cianorte capital do vestuario. paz do senhor.
Márcia Filgueira
09 Apr 2015 23 37
A história da visita de Hermógenes ao presídio tocou profundamente meu coração.
O texto inteiro é uma belíssima e bem merecida homenagem ao nosso querido mestre iogue... tenho certeza de que é o "muito obrigada" que todos os beneficiados pelos seus ensinamentos gostariam de expressar, nesse momento.

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