O médico e o monstro
Postado em 21 Jan 2015 18 30 Textos Anteriores












Os três pilares da medicina mercantilista 
que lesa os pacientes e o estado


por JOMAR MORAIS


Meus pais queriam que eu fosse médico. Nos anos 60 ter um filho médico, outro engenheiro e outro advogado era a meta de muitas famílias nordestinas. Algumas queriam ainda um filho padre, então uma garantia de que se teria poder na Terra e no Céu.

Na infância pensei em ser padre, mas isso foi logo absorvido por uma paixão arrebatadora: o jornalismo. E, assim, para desgosto de meus pais naquela época, na juventude abandonei a área biomédica pouco depois de ser aprovado em 13° lugar no vestibular e me entreguei de vez ao vício contraído já aos 14 anos de idade: escrever notícias.

Se não tivesse seguido o impulso do meu coração, talvez hoje eu fosse mais um na lista interminável de médicos envolvidos com o grande balcão de falcatruas em que se transformou a prática da medicina no Brasil e, com diferentes gradações, no mundo. É difícil ser ético quando se exerce um ofício que não corresponde ao talento e ao sonho. Quando o dinheiro é a única motivação de uma vida, não se deve esperar que sobrevivam a honestidade e a solidariedade. 

Para mim, portanto, o conflito vocacional é a primeira causa da crise moral que se abateu sobre o exercício da arte de curar. A corrida aos cursos de medicina, multiplicados sob motivação comercial, tornou-se emblemática da educação utilitária: jovens sem ideal e suas famílias pragmáticas sabem que o alto investimento financeiro que realizam para a obtenção do diploma será retornado em curto ou médio prazos, ainda que não seja pela via lícita de um salário legal.

A segunda causa é tão avassaladora quanto a primeira. Diz respeito ao modelo de negócio instituído para explorar a doença (em nome da saúde), comandado pela indústria farmacêutica (a segunda mais lucrativa do mundo, atrás apenas da indústria de armas), tendo como coadjuvantes os planos de saúde, os hospitais, a indústria de materiais hospitalares, as máfias burocráticas do serviço público e, claro, médicos e demais profissionais que se deixam envolver pelo imoral esquema de distribuição de propinas, em dinheiro vivo ou sob a forma disfarçada de bônus e premiações com viagens e outras facilidades.

Existe, a meu ver, uma terceira causa, poderosa ainda que difusa, a qual envolve a participação da mídia (despreparada para avaliar a crise e o papel dos agentes corruptores na saúde ou seduzida por verbas publicitárias), o consentimento do público (desinformado e manipulado pela cultura vigente) e a leniência das autoridades, inclusive do Ministério Público e da Justiça, ante um escândalo que se sustenta há décadas sob todas as cores partidárias e ideológicas, dentro e fora da política.

A denúncia sobre o escândalo das próteses, exibido na TV, tem cheiro de pauta sugerida pelos planos de saúde (prejudicados nessa área), mas expõe a ponta de um iceberg imenso, maior que todos os escândalos que colorem a mídia e o jogo político. 

Haverá responsabilidade social e coragem para seguir os rastros e chegar às causas primeiras? Duvido. Mas, como cidadão, ainda espero.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 06/01/15 ]


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Teodor
18 Dec 2015 07 35
It is Kamiya Hiroshi — who will be known by some readers here as the seiuyu for Izaya. (And incidentally, Elesa is voiced by Celty's seiuyu in this trailer (not the case in the anime (though in the anime Cilan shares Kida's seiuyu (closing parentheses now)))) Many Durarara!! people in Poke9mon BW.Anyway, everyone google for the B2W2 trailer, the video keeps being deleted everywhere so links stop working but I promise it looks fantastic. http://hnhszoi.com [url=http://vetgsteksl.com]vetgsteksl[/url] [link=http://litkgd.com]litkgd[/link]
Luisa
17 Dec 2015 10 31
Idk after seeing him holindg Hitler's SEVERED HEAD in his palm a while back, my mind will always have him portrayed as the psychotic snuggie dictator anything else just feels like a ploy to fool people into trusting him (like N).
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