Desafios em rede
Postado em 18 Aug 2017 19 00 Textos Anteriores












Ninguém foi capaz de prever o surgimento  
da Internet. E ninguém sabe, hoje, aonde  
ela nos levaré - para o bem ou para o mal  


por JOMAR MORAIS


Tudo começou com o telefone. Em 1860, um pequeno aparelho eletroacústico, inventado pelo italiano Antonio Meucci, tornou possível a comunicação por voz à distância – e isso mudou radicalmente o rumo e até o propósito da evolução da humanidade. Décadas depois, como desdobramento desse primeiro passo, conheceríamos o rádio e, na sequência, a televisão. E, com a corrida espacial na segunda metade do século 20, a associação da tecnologia dos computadores e a da comunicação sem fios, daria margem à criação do celular, a imprescindível caixinha mágica de nossos dias.

Ao revermos esses passos, parece-nos que a Internet era algo previsível desde o século 19, mas não foi assim que aconteceu. Perceber o óbvio pode ser uma proeza impossível, se isso ameaça nossa zona de conforto. Nenhum profeta, cartomante, futurólogo ou economista previu o surgimento da rede mundial de computadores tal como a temos na atualidade, permeando toda a nossa rotina. 

E quando o imprevisível apareceu a maioria das pessoas e empresas, apegadas à segurança dos padrões e hábitos conhecidos, relutaram em rever processos e objetivos e acabaram sugadas pelo furacão das inovações tecnológicas e suas consequências no mundo do trabalho e dos negócios. Outros, como os jornalistas e as empresas de mídia, demoraram mais que o razoável para entender o contexto e tomar decisões e hoje tateiam entre experimentos em tentativas de reposicionamento e reinvenção.

Os meios de comunicação desperdiçaram quase duas décadas na crença de que a excelência da Internet limitava-se ao entretenimento e que as mídias convencionais jamais poderiam ser emuladas e superadas por pacotes de bytes enviados às telas de computadores pessoais, tablets e celulares. Quando, enfim, descobriram que havia lugar para seus negócios em sites e portais, os grandes provedores da net – os big brothers que hoje detêm o monopólio mundial da comunicação – já haviam puxado esse tapete, subjugando-os às esteiras das redes sociais, aparentemente anárquicas e livres, embora controladas por algoritmos capazes de inflar ou esvaziar a audiência de qualquer conteúdo, a partir do notebook de um nerd nas centrais do Facebook ou do Google.

Assim como nenhum arauto conseguiu prever a chegada da Internet, até aqui ninguém tem conseguido cravar a melhor maneira de utilizarmos a rede para promover o real crescimento das pessoas.

Quem deu boas-vindas à net julgava que ela iria promover inevitavelmente um salto de conhecimento e transparência na sociedade. Hoje, os fatos demonstram que a Internet é também excelente para promover o nonsense, a imbecilidade e a superficialidade estéril que resulta da leitura apressada de títulos e legendas na montanha de dados que poucos sabem administrar e processar. E pode, sim, ser muito útil aos manipuladores da opinião pública, como ficou provado com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, ajudada por hackers russos. Uma simples máquina pode gerar milhões de bots (robôs eletrônicos) que simulam serem pessoas de carne e osso nas redes sociais, espalhando conteúdos mal intencionados e criando falsos likes e tendências. Na sequência, o efeito manada sobre  multidões ingênuas ou desinformadas será praticamente inevitável.

Isso teria acontecido inclusive no processo de conquista da aprovação popular ao impeachment da presidenta Dilma Roussef e agora mesmo pode estar se repetindo em algum nível sob o patrocínio de empresas, partidos, grupos e máfias interessados em promover interesses e produtos.

Vejo aí dois perigos iminentes. 

O primeiro, explícito, é o da ampliação da ignorância e  do cerceamento do crescimento das pessoas que, em seu processo educativo, jamais foram ensinadas a lidar de forma crítica com os meios de comunicação. Na tela dos computadores e celulares, parece estar se fortalecendo a confusão entre a narrativa e a realidade, a versão e o fato.

O segundo, subliminar e refinado, surge por tabela diante da influência que as redes sociais e seus likes exercem hoje sobre a produção convencional de informação e entretenimento. A liberdade de informação e, sobretudo, a qualidade desta – e por consequência do processo educativo não formal - talvez esteja sofrendo um duro golpe sob a influência de redes sociais dominadas pela futilidade e pelos interesses sombrios. 

[ Publicado na edição do Novonotícias.com de 15/08/17 ]

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