Precisamos de um Gandhi
Postado em 02 Jul 2017 17 43 Textos Anteriores












No vazio de líderes confiáveis, o Brasil  
espera que surja alguém com a estatura  
moral de Gandhi para indicar a saída  


por JOMAR MORAIS


Um ano depois do golpe parlamentar que cassou o mandato da presidenta Dilma Rousseff, mesmo sem a existência de delito provado, o Brasil está mergulhado numa crise colossal que transcende a política e permeia toda a sociedade, descrente de seus representantes, de suas instituições e de seus valores.

De quanto tempo precisaremos para sair desse labirinto escuro no qual fomos jogados pelas ambições de grupos – da direita à esquerda - e pela mesquinharia de uma elite excludente, quase escravocrata, só Deus o sabe. O golpe de 1964, idealizado pela mesma elite, detonado pela mesma mídia, influenciado por poderes estrangeiros e executado pelos militares durou duas décadas, deixando marcas negativas profundas nas instituições, algumas das quais perduram até hoje.

Como nem tudo é absolutamente bom ou mal, a ditadura militar aproveitou um período de abundância mundial de recursos para impulsionar o desenvolvimento estrutural do país, em meio aos gritos da tortura e ao silêncio imposto sobre desmandos e corrupções. Hoje, sem dinheiro a irrigar o mundo, a treva que nos fez perder o rumo tem servido para expor nossos monstros, aprisionados nas teias da própria esperteza e na incapacidade de manter incólume todos os conluios enquanto existe um mínimo sopro de democracia.

Qualquer saída de inspiração imediatista nos conduzirá a novas frustrações. Não existe alternativa confiável, hoje, em nenhuma organização política e muito menos entre os representantes da plutocracia – isto é, bancos, os grandes grupos empresariais, os ricos que vivem de renda e os conglomerados de mídia, que defendem seus interesses -, que historicamente têm golpeado as instituições sempre que a compra de políticos e agentes do Estado, nos três níveis de poder, não é suficiente para garantir ou ampliar seus privilégios.

Temos um estado corrompido, assaltado por interesses privados. E temos uma sociedade ignorante sobre a realidade dos fatos, manipulada pelo jogo das versões e radicalmente dividida pelas paixões que emergem do vazio de clareza e honestidade.

Dificilmente sairemos desta para uma melhor sem homens com espírito missionário, gente disposta ao sacrifício, se necessário, almas de horizonte amplo, capazes de enxergar além da curva com a liberdade de um coração comprometido com valores éticos universais. Dificilmente nos salvaremos do labirinto sem a emergência de líderes íntegros, capazes de restabelecer o diálogo e, pela força do exemplo, inspirarem a cura de uma sociedade moralmente doente, razão pela qual suas instituições tornaram-se decrépitas.

Talvez precisemos de um Gandhi ou de alguém assemelhado. Um homem místico, mas não religioso ou sacerdotal. Alguém liberto dos rótulos e das gaiolas da política tradicional e da política religiosa. Um crente ardente nos valores humanistas, cuja autoridade, oriunda da vivência, seja capaz de serenar os falcões, conter as paixões e apontar um novo caminho, digno e justo.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 27/06/17 ]

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