Perigo na educação
Postado em 30 Sep 2016 00 42 Textos Anteriores











"A reforma do ensino médio poderá  
criar mais desigualdades", diz a socióloga  
Maria Alice Setúbal, do Cenpec  



por JOMAR MORAIS


A reforma do ensino médio, anunciada pelo governo, causa espanto em todo o país. E não é apenas pelas questões sujeitas a interpretação ideológica, como a transferência para a grade de opcionais de disciplinas fundamentais à formação humana, política e moral dos educandos: artes, sociologia, filosofia e educação física.

De fato, não pega bem para um governo que foi elevado ao poder pelos bancos e grandes grupos econômicos, com a participaçãoo de um Congresso mergulhado em casos de corrupção, escancarar, logo no início, que estaria comprometido com a formaçãoo de um excedente de mão de obra técnica de nível médio, mediante a imposição de uma grade curricular que desestimule a formação em ciências humanas dos filhos dos pobres - aqueles que frequentam a escola pública.

Para a sociedade, essa é uma sinalização tão grave quanto a poda de direitos sociais e trabalhistas, prevista para 2017 - isto é, após as eleições -, e a flexibilização das privatizações e parcerias público-privado no conjunto de uma reforma que visa baratear custos e aumentar a competitividade brasileira no comércio exterior. 

Mas o pior a acontecer, caso a reforma proposta para a educação se torne realidade, acaba de ser dito ao jornal espanhol "El País" por uma voz acima de qualquer suspeita: a socióloga e doutora em Psicologia da Educação Maria Alice Setúbal, filha do fundador do Banco Itaú (Olavo Setúbal) e irmã do atual presidente da instituição (Roberto Setúbal).

"Se o Estado não tiver condições de implementar a infraestrutura necessária para esta reforma em todas as escolas, a maioria delas não vai conseguir. Então, se criará maiores desigualdadess, disse Maria Alice, que acompanha o ensino brasileiro por meio do Centro de Estudos em Pesquisa e Educação (Cenpec). 

Para a especialista, esse pode ser o desfecho de uma reforma que começaa com outro desvio grave, imposta através de uma medida provisória, sem discussão ampla com a sociedade. "Pela própria institucionalidade da democracia, o fato de ser por MP era desnecessário",lembra a socióloga. 

Alguns pontos da proposta atual já vinham sendo discutidos desde o governo passado, mas o governo atual, em vez de retomar o diálogo, atropelou o processo e anunciou uma medida polêmica que pode causar danos ao Brasil e, sobretudo, aos brasileiros pobres, sem acesso às escolas privadas.

Para Maria Alice, o argumento oficial de que as mudanças anunciadas são inspiradas em modelos educacionais bem sucedidos, como o da Finlândia e o da Coreia, não garante o êxito da imitação brasileira. Falta-nos escolas bem equipadas, profissionais em reciclagem permanente e bem remunerados para que os pontos positivos da proposta, como o do ensino integral e a orientação personalizada para o aluno, possam ser viabilizados. 

"A direção da flexibilidade é importante, é parte do que os jovens estão querendo e dialoga com questões contemporâneas, com diferentes opções", disse a especialista. "Mas quem vai financiar isso? Os estados estão falidos. Será que vamos financiar só um pedaço para que se torne vitrine política, e depois aumentar?" 

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 27/09/16 ]


Visite a TV Sapiens e assista a vídeos bem diferentes >>>  www.youtube.com/sapiensnatal

Para abrir a janela de comentarios, clique sobre o titulo do texto ou sobre o link de um comentario >>:
Para abrir a janela de comentarios, clique sobre o titulo do texto ou sobre o link de um comentario

Deixe um comentario
Seu nome
Comentarios
Digite o codigo colorido