A política, o esporte e a guerra
Postado em 10 Aug 2016 23 58 Textos Anteriores








A política e o esporte nos livram da ferocidade do  
egoísmo e da guerra, mas podem ser manipulados  
pelos senhores da guerra e da exploração  


por JOMAR MORAIS


Em memória da Grécia antiga, de quem herdamos o princípio da democracia, a melhor forma de se praticar a política, e os jogos olímpicos, com seu ideal de respeito e delicadeza em meio à competição, aqui vão dois dedos de prosa sobre essas questões permanentes enquanto festejamos a Olimpíada no Brasil. 

O que é a política? Neste caso, fico com a resposta do filósofo francês André Comte-Sponville: 

"É a gestão não guerreira dos conflitos, das alianças e das relações de força. (...) É, portanto, a arte de viver juntos, num mesmo estado ou numa mesma cidade, com pessoas que não escolhemos e que são, sob muitos aspectos, nossas rivais, tanto quanto ou mais que aliadas. Isso supõe um poder comum e uma luta pelo poder. Isso supõe um governo e mudanças de governo. Isso supõe choques, mas sujeitos a regras, compromissos provisórios, um acordo enfim sobre a maneira de solucionar desacordos. Fora disso só haveria violência e é isso que a política, para existir, deve impedir antes de mais nada. Ela começa onde a guerra acaba". 

E o que é o esporte? Um lazer, um entretenimento que, além de proporcionar saúde física e mental, revelou-se, ao longo do tempo, um excelente meio de expressão da agressividade de forma polida e controlada e um agente de congraçamento entre os povos como nenhuma outra atividade humana. O espírito esportivo supõe atitude de fair-play com os adversários e colegas de equipe, integridade, jogo limpo e ética na vitória ou na derrota.

Política e esporte são duas vias pelas quais escapamos à ferocidade do egoísmo e à violência insana, aprendendo a conviver com a diversidade e o conflito de interesses. Infelizmente, como todos os ideais e utopias, ambos estão sujeitos ao boicote da condição humana e dos desejos sórdidos dos indivíduos, não raro corrompendo-se e perdendo o rumo.

A política pode ser - e, com frequência, é - um instrumento de minorias que manipulam o jogo, subjugando corações e mentes ao poder do dinheiro e à sedução de vantagens ilegais e imorais. A democracia representativa, que sucedeu à democracia direta da Grécia antiga, submetida a regras incompatíveis com a aspiraçao de justiça e transparência, praticamente transformou-se numa farsa em que representantes de corporações e da plutocracia usurpam o poder do povo para legislar e governar no interesse de grupos.

Já o esporte, hoje um negócio lucrativo para empresas e organizações, quase sempre tem seus propósitos genuínos enlameados pelo jogo da política e pelos sentimentos vis dos que golpeiam a beleza do espírito esportivo com interesses inconfessáveis.

Mesmo os Jogos Olímpicos foram atropelados pelo nazismo - que deles serviu-se para a sua propaganda em 1936 - pela guerra fria e pelo terrorismo e, ainda hoje, tem sido manchado por escândalos de dopping, como o da Rússia - uma mostra de como a política corrompida pode contaminar o esporte e toda a sociedade.

E assim será enquanto nós, indivíduos, não aprendermos a lidar com a nossa sombra. Toda instituição sempre refletirá o perfil moral dos homens que a compõem.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 09/08/16 ]


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