Até o fim. E isso é o mínimo.
Postado em 25 May 2016 07 29 Textos Anteriores









Jucá, articulador de Temer, revela a trama de membros  
dos poderes da República para salvar políticos  
corruptos com o sacrifício da presidenta. E agora?  


por JOMAR MORAIS


O país iniciou a semana sob o impacto da revelação da conversa do ministro Romero Jucá, um dos articuladores do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, ambos do PMDB, ambos investigados no escândalo da Petrobrás. O relato é uma bomba atômica explodindo na política.

Não porque contenha novidades, mas por ser a confirmação, pela boca de um dos autores da trama, do que já se sabe aqui e no exterior: uma mulher que não é acusada de corrupção foi derrubada por homens corruptos como último recurso para paralisar as investigações do Ministério Público e a ação da Justiça, que fatalmente os conduziriam ao banco dos réus.

Talvez Romero Jucá não amanheça ministro nesta terça-feira. Talvez o presidente interino Michel Temer faça com ele aquilo que rolou na conversa de Jucá e Machado em relação a Dilma: “é preciso escolher um boi de piranha para que a manada possa fazer a travessia”. Para salvar a si mesmo e o resto da manada, Temer certamente agirá, afastando o ministro.

A inconfidência de Jucá é gravíssima. Ele cita suas conversas com ministros do STF e se diz preocupado com Teori Zavaski, um dos poucos que se mantém “fechado”, ou seja, pouco acessível pelos grupos poderosos, no polo oposto, por exemplo, ao do ministro Gilmar Mendes, que usa a toga para fazer política. Ele cita conversas com generais que lhe teriam garantido usar a tropa se os movimentos sociais reagissem à saída de Dilma. Ele cita o interesse da imprensa em derrubar a presidenta. Ele cita o lamaçal que envolve praticamente todos os partidos e refere-se a Aécio Neves como o próximo a ser “comido”.

Não dá para esconder: vivemos uma situação dramática que exige solução verdadeira e não uma farsa encenada por vilões que tomaram de assalto o estado brasileiro, como representantes de grandes bancos e grupos empresariais que financiam suas campanhas e os subornam sempre que necessário. Isso hoje abrange todo o espectro político e ideológico e quase toda a burocracia nas diversas instâncias de poder.

Desde a posse de Temer, o país tem assistido a manifestações contra os ocupantes ilegítimos do poder (a conversa de Jucá nos autoriza a qualificar assim), o que é legal e legítimo, mas, penso, incompleto. Melhor seria se tais manifestações se alastrassem até os pátios do STF, do Ministério Público Federal e dos Ministérios Públicos Estaduais, ao Fórum do Juiz Moro e outros juízes envolvidos com a apuração de delitos político-administrativos, para exigir a aceleração de processos que hoje envolvem centenas de parlamentares, agentes públicos e empresários – todos esses que, na palavra de Romero Jucá, seriam salvos com a “mudança de governo” e o “pacto nacional” proposto por Temer, pois isso estancaria a “sangria” da Lava Jato.

Não. Os cidadãos honestos não queremos esse pacto fajuto. Queremos aprofundamento das investigações, justiça para todos e terreno limpo para que se possa eleger uma Constituinte e um presidente da República desvinculados da plutocracia corruptora e das máfias corruptas que impedem o Estado de cumprir sua missão.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 24/05/16 ]


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25 May 2016 08 24
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