Viver é experimentar
Postado em 20 Jan 2016 19 27 Textos Anteriores






A imaginação e a arte são elaborações mentais  
que subsidiam a construção de nossa própria  
narrativa , mas esta será  pobre ou incompleta  
se nos faltar o contato direto com a realidade  


por JOMAR MORAIS


Em 1884, o escritor francês Joris-Karl Huysmans escreveu o romance “Às avessas”, cujo enredo se passa nos arredores de Paris, em torno do Duque des Esseintes, personagem decadente e misantropo que antevia uma viagem a Londres maculada pela preocupação com a diferença entre aquilo que imaginamos sobre um lugar e o que pode acontecer quando a ele chegamos.

Solitário, o duque vivia numa mansão e raramente saía de casa para evitar deparar-se com “a feiúra e a estupidez dos outros”. A ideia de ir a Londres lhe ocorrera enquanto lia um livro de Charles Dickens. 

Des Esseintes ordenou aos criados que preparassem suas malas, mas, a caminho da estação, resolveu parar numa taberna frequentada por clientela inglesa onde o cenário parecia ter saído de um romance de Dickens. Depois de fartar-se com sopa de rabo de touro, hadoque defumado, cerveja e o visual de inglesas robustas em torno das mesas, ele foi tomado de imensa lassidão e passou  a imaginar os incômodos que poderia enfrentar na viagem de trem e até mesmo em Londres. 

"Qual a necessidade de uma pessoa se locomover quando pode viajar tão maravilhosamente sentada numa cadeira?", pensou. Já não estava em Londres, com seus cheiros, seu clima, sua comida? E, assim, com receio de cansaço e de cepções, pagou a conta e voltou para casa, de onde nunca mais saiu.

O enredo de Huysmans é lembrado pelo escritor suiço-britânico Alain de Botton em seu livro “A Arte de Viajar” (Intrínseca, 2012), um amável presente que recebi da amiga Emídia Felipe, jornalista atuante no Recife, por achar que na costura de viagens com filosofia feita por Botton há pontos de contato com o meu destino de andarilho e meus olhares reflexivos sobre o que encontro pelos caminhos. 

E é deles – Botton, Huysmans e o duque - que me recordo agora, num quarto de hotel em São Paulo, a poucas horas de embarcar para um mochilão em Israel e Territórios Palestinos, apesar das advertências de familiares e amigos preocupados com a minha segurança. 

A tese de Huysmans e seu personagem é a de que a imaginação e a arte (livros, telas, fotos) “omitem e condensam fatos, eliminam os períodos de tédio, e  dirigem nossa atenção para momentos críticos, conferindo à vida uma vividez que lhe pode faltar na confusão perturbadora do presente”. Para Des Esseintes,  a imaginação pode proporcionar “um substituto  adequado à realidade vulgar da experiência concreta".

Não vejo assim. A imaginação e a arte são elaborações mentais (representações da realidade) que podem subsidiar a construção de nossa própria narrativa (visão de mundo), mas esta será  provavelmente pobre ou incompleta se nos faltar o contato direto com a realidade e seu efeito sobre nossas crenças, valores, expectativas e capacidade de fruir a vida.

A perspectiva de Des Esseintes é a do misantropo, um homem fechado em seu mundo, para quem o contato com a diversidade e a incerteza da vida parece sempre incômodo e perigoso. Isso não nos conduz à plenitude e, muito menos, à alegria e à paz.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 19/01/16 ]


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Armena
14 May 2016 13 36
Ag3red&#82e0; the lesson is in watching the guy doing the violence whether or not it’s justified, right, or wrong. Did it work? Why? How? If he’s a professional boxer, it didn’t appear he was using ring skills, at least not very well. But he sure did survey the 360 degrees pretty well. And kept moving, then penetrating.
Ethanael
13 May 2016 15 32
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Karsen
12 May 2016 01 27
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06 Mar 2016 07 38
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