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VIAGEM À MINHA VIDA PASSADA
Fui negão!
# Pela primeira vez, Jomar Morais relata os insights que o levaram a identificar-se com André Rebouças, o engenheiro militar negro que atuou pela abolição da escravatura e, fiel ao imperador Pedro II, deixou o Brasil com a família real, permanecendo no exílio até à morte misteriosa na Ilha da Madeira.

# Acompanhe as visitas do jornalista aos locais onde Rebouças viveu e morreu e saiba quais detalhes de suas recordações foram comprovados.

# Conheça documentos e fotos relativos a André Rebouças e sua vida e compare com os insights e as impressões do jornalista desde a sua infância.
JM em Recife,
aos 18 anos
André em Paris,
aos 24 anos
É inverno em Funchal, a simpática capital da Ilha da Madeira, jóia portuguesa no Atlântico e há séculos um refúgio de europeus em fuga do frio e das nevascas nesta época do ano. A temperatura local oscila em torno de 15 graus centígrados, mas nesta tarde de 27 de janeiro de 2010, eu transpiro.

Sozinho, na penumbra de uma pequena cabine no Arquivo Regional da Madeira, edifício moderno erguido entre o mar e as escarpas, no bairro alto de Santo Antônio, manejo o  projetor de microfilme enquanto procuro, na edição do Correio do Funchal de 9 de maio de 1898, a notícia que me levou até ali. Minha ansiedade crescera à proporção que eu folheava outros jornais, sem conseguir achar o registro esperado. O fato que motivou a pesquisa ocorreu provavelmente na noite de 8 de maio ou na madrugada que a sucedeu e, certamente  por isso, é que o vespertino de apenas quatro páginas, formato tablóide, foi o primeiro a noticiá-lo. 

Finalmente, encontro a notícia. Ela tem só quatro parágrafos e está escondida no final da quarta das cinco colunas da segunda página, mas encontrá-la tem sobre mim um efeito desconcertante, algo como a explosão de uma bomba que, por alguns segundos, aproxima-me do pânico. Falta-me o ar, meu corpo treme, mergulho em agonia. Sinto vontade de gritar não! não! Quero negar o que leio.
Uma nota explosiva

“Morte desastrosa”, diz o título da nota cuja descrição, em português direto e objetivo, misteriosamente, faz-me sentir no centro do acontecimento. “Esta manhã foi encontrado morto no mar, junto ao New-Hotel-Reid, o cadáver do súdito brasileiro, nosso hóspede desde há 7 anos, dr. André Rebouças”, continua o texto, aqui adaptado à grafia atual de nosso idioma. “Este cavalheiro, que exerceu nos tempos do império um elevado cargo público, apresentava desde há tempos sinais de transtorno intelectual e supõe-se que ele próprio se tenha atirado ao mar. O infeliz recebera ontem cartas do Brasil e, desde então, mostrava-se sobremaneira preocupado. Lamentamos esta desgraça e que a alma do infeliz descanse em paz”.

Fico assim, com o coração disparado e as mãos frias e úmidas, cerca de um minuto - uma eternidade quando se está vivendo esse estado de alteração da mente e do corpo. Mas consigo recobrar o equilíbrio com exercícios de respiração e uma oração de aceitação e entrega, permanecendo, contudo, extenuado e entorpecido por mais algum tempo.

O curioso é que muito antes, dias antes, quando decidi embarcar de Lisboa para Funchal, eu sabia que iria ler essa notícia, conhecia o seu conteúdo. A identificação com o relato e o meu mergulho numa dimensão não convencional da mente surpreende-me.

Refeito do impacto, continuo a pesquisa. Dessa vez é o registro do Diário Popular de 10 de maio de 1898, uma nota simples, também de quatro parágrafos, mas destacada no alto da quarta coluna da segunda página. Outra vez emoção forte, mas sob controle, vontade de chorar e algumas poucas lágrimas.

“Rebouças”, é o título da notícia do Diário. "Deu entrada na casa mortuária da Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, ontem, pelas dez horas da manhã, o cadáver do engenheiro  Rebouças, antigo familiar e amigo dedicado do velho D. Pedro 2º, imperador do Brasil. Vivia há anos no Hotel Reid, ao Salto do Cavalo, onde se recolhera desde que o seu velho amigo descera os degraus do trono. Não sabemos se a morte foi devida a propósito ou a desastre. Parece que o cadáver fora encontrado no mar, próximo ao hotel onde vivia, sendo certo que todo o fato se achava bastante molhado, e assim o vimos naquela casa. Era homem muito ilustrado e distinto escritor, não sendo menos notável a sua extrema modéstia e quase segregação completa de convivência, ainda com os que viviam sob o mesmo teto."

Ao deixar a sede do Arquivo Regional, no final da tarde,  continuo perplexo, no entanto, estou lúcido o suficiente para pedir informações a funcionários do Arquivo sobre o Hotel Reid´s. Fico sabendo que o estabelecimento continua funcionando no mesmo local onde fora edificado, de 1887 a 1891, pelo empreendedor inglês William Reid, sobre  rochedos do antigo Salto do Cavalo, com uma vista esfuziante da baía do Funchal. Será o meu próximo alvo de pesquisa, no dia seguinte.

O começo da história

Já se passaram quase quatro anos e, de certo modo, ainda estou confuso. Mesmo agora, na madrugada de 1º de novembro de 2013, quando finalmente começo a cumprir a promessa de fazer esse relato para os meus amigos e leitores,  relembrar os acontecimentos daquela tarde em Funchal altera o meu humor e me expõe a uma tempestade de emoção, uma tendência depressiva.

Eu e André Rebouças seríamos a mesma pessoa? Ou, se preferirmos elaborar num nível acima da referência convencional do “eu”, seríamos a manifestação de um mesmo princípio inteligente em momentos distintos na experiência dos corpos? Haveria em mim, no aglomerado dessa persona com que me identifico, algum agregado energético que preserva do passado remoto registros psíquicos daquele que um dia foi o “infeliz” André relatado pelo Correio do Funchal? Enfim, qualquer que seja a linha de interpretação - se kardecista ou budista, se hinduísta ou mesmo junguiana - estaríamos nesse episódio diante de indícios de uma reencarnação?

Observe. Você não está lendo um texto científico e nem um discurso religioso. Nada do que digo aqui, ainda que passível de investigação científica, pode ser provado cientificamente no momento em que escrevo. Nenhuma palavra minha carrega a pretensão de uma revelação espiritual. O que faço agora é um relato no qual me insiro como narrador e personagem de uma experiência pessoal intrigante. O seu compartilhamento, através deste texto, tem a única intenção de provocar amigos e leitores, nesses dias de materialismo utilitário, a não relegarem a dúvida ante a realidade do ser nem subestimarem o mistério de nossa essência, aquilo que chamamos vida.

Então, comecemos pelo início.

Minha agonia no Arquivo da Madeira é só o trecho mais dramático de uma história que começou anos antes sem que eu ao menos tivesse consciência do que tinha à minha frente e sequer suspeitasse da costura que o destino faria, encaixando peças distantes no tempo e no espaço. Só muito depois tomaria forma o enredo no qual eu, um jornalista da segunda metade do século 20, apareço atado a um engenheiro do século 19, negro, humanista, excêntrico, criativo e empreendedor, racional e místico, estrela fulgurante de uma classe média mestiça num país escravocrata que ascende ao céu por seu talento e lealdade e desce ao inferno depressivo no fim da vida, em parte vitimado por seu orgulho e por seus apegos.
André Rebouças
Luiz de Andrade
Esta é a foto que, em janeiro de 1997, provocou em mim o insight sobre André Rebouças, ao encontrá-la numa página amarelada do jornal "A Manhã", no arquivo morto da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. Nela aparecem os líderes da Confederação Abolicionista.
Na foto abaixo, o jovem Luiz de Andrade (em pé à esq.), Bilac, Murat e Albuquerque: visão espiritual confirmada 30 anos depois.
Um tal Luiz de Andrade

Era uma tarde de agosto de 1996 e, como eu fazia já há alguns meses, repousava após o almoço numa das poltronas da sala principal da Biblioteca da Câmara dos Deputados, em Brasília. Nessas ocasiões, sempre tinha em mãos um livro retirado ao acaso de alguma estante e, dessa vez, era uma enciclopédia (já não lembro seu título), a qual se tornaria o estopim de outra experiência transcendental que só em parte citarei aqui, a fim de não me afastar do foco desta narrativa. Repórter especial de política do jornal Folha de S. Paulo e um dos redatores da coluna “Painel”, eu voltara a residir pela segunda vez na capital do país e, como acontecera anteriormente, estava desconfortável comigo mesmo por não ser Brasília a cidade de meus sonhos e, principalmente, por encontrar-me no meio de uma crise familiar. Estava, portanto, sensibilizado para ouvir e ler os sinais da vida além dos interesses vegetativos da profissão e das relações sociais.

Ao abrir a enciclopédia, deparei com um verbete sobre Luiz de Andrade (1849-1912), jornalista pernambucano que tivera uma atuação brilhante como articulista político e editor na imprensa carioca da segunda metade do século 19 , tendo sido também deputado federal por seu estado. Ao ler o texto, de imediato liguei o biografado a um personagem que aflorara em minha vida enquanto eu, aos 14 anos de idade, realizava um dos meus exercícios introspectivos numa madrugada, pois desde criança sou notívago e amante das madrugas.

Não estranhe. Não se tratava de uma pessoa em carne e osso, mas de uma entidade. Por volta das 2h, recolhido ao meu mundo mental, percebi-o ao meu lado e ouvi-o pronunciar, também mentalmente, o nome “Luis de Andrade”. Então, 29 anos depois, como alguns dos dados do verbete sob os meus olhos coincidiam com os meus dados intuitivos, firmei a convicção de que o personagem da enciclopédia era o mesmo de minha experiência paranormal e decidi aprofundar a investigação.

Luiz parecia ser o meu Luis e isso mexia comigo. Queria encontrar uma imagem de Luiz de Andrade, inexistente no verbete da enciclopédia, mas fracassei em todas as tentativas que fiz em Brasília. Meses depois voltei a morar em São Paulo e, ao tomar conhecimento da rica coleção de jornais da Biblioteca Mário de Andrade, no centro da cidade, reiniciei a minha busca. Resgatei muitos dados biográficos de Andrade e vários de seus textos na Revista Ilustrada e no Diário de Notícias, ambos veículos proeminentes da imprensa do Rio de Janeiro no século 19, dos quais ele fora editor e diretor. Mas faltava-me uma foto, uma imagem para aplacar minhas dúvidas.

Então, no dia 17 de janeiro de 1997, meu aniversário, que transcorria sob uma crise pessoal e familiar, ao passar diante de uma das estantes da biblioteca sou atraído pelo livro A Vida Exuberante de Olavo Bilac e, ao abrí-lo ao acaso, outra vez sou contemplado pelo inusitado: na página 126 encontro uma foto feita com um daguerreótipo na qual o jornalista Luiz de Andrade aparece ao lado de Olavo Bilac, Luis Murat e Lins de Albuquerque, personagens de nossa vida literária .

Eu não podia acreditar! A imagem de Andrade na foto (veja reprodução nesta página) e a da minha “alucinação” juvenil eram praticamente idênticas, com um leve envelhecimento do personagem em minha imagem mental. A emoção nessa ocasião foi de alegria, quase uma explosão. A partir daí, essa história teria inúmeros desdobramentos - incluindo mudanças profundas e radicais em minha vida -, mas um dos mais relevantes aconteceria quando decidi procurar mais dados e mais imagens de Andrade no arquivo morto da Biblioteca Mário de Andrade, situado no bairro de Santo Amaro.

Olho no olho

Foi lá, folheando o suplemento literário do jornal A Manhã, de 13 de junho de 1943, que ocorreu-me o insight que me levou à Ilha da Madeira.

Ali, num ensaio de várias páginas sobre Luiz de Andrade - justa homenagem a essa figura relevante, mas esquecida, do jornalismo e das lutas sociais brasileiros - chamou-me a atenção uma foto (daguerreótipo) de expoentes da Confederação Abolicionista na qual Luiz de Andrade aparece em pé, com a mão direita sobre o encosto de uma cadeira à sua frente onde estava sentado um homem negro, de olhar penetrante focado no infinito, cuja face tinha um suave toque de introspecção e soledade. Meus olhos fixaram-se nos olhos daquele homem e, de súbito, eu me senti ali, no meio daqueles senhores elegantemente vestidos com ternos pretos à moda da época, coletes e gravatas borboletas sobre as camisas alvas. Sem explicação, sentia que eu era aquele negro e, em minha mente, aflorava um senso de amizade com Luiz de Andrade, uma cumplicidade.

Somente quando a mente acalmou, li a legenda abaixo da foto e pude, então, identificar o personagem: André Rebouças. Durante duas décadas eu transitara com frequência pela avenida Rebouças em São Paulo (na verdade, homenagem ao irmão e parceiro de André, o também engenheiro Antonio Rebouças) e pelo túnel Rebouças (este sim, uma homenagem a André), no Rio de Janeiro, sem que jamais algum insight me ocorresse. Mas aquela imagem impressa revirava minhas entranhas mentais e, desde, então, uma cascata de associações se foi formando à medida que, curioso, comecei a buscar dados sobre o mulato da foto.

Explicações para episódios e traumas de minha infância, para traços psicológicos meus, para certos hábitos e preferências, para meu jeito excêntrico de me relacionar e atuar socialmente... muita coisa se encaixou, reforçando em mim uma sensação de déjà vu que, no entanto, não me tornou um saudosista, talvez em razão de minha convicção atual sobre a transitoriedade das formas e minha intenção de transcender ao apego, tão caro aos nossos egos.
Os Rebouças
O rábula Antônio, pai, o filho Antônio e André Rebouças
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Os jovens tenentes André e seu irmão Antônio em Paris, em 1862
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JM em Paris, em janeiro de 1982 >>
O engenheiro Rebouças

Bom, para que você possa entender esse relato (se é que isso é possível) preciso agora sintetizar a biografia de nosso personagem.

André Pinto Rebouças nasceu em 13 de janeiro de 1838, em Cachoeira, na Bahia. Era filho de Antônio Pereira Rebouças - um mulato que atuava como rábula, advogado sem diploma, e chegou a ser deputado pela Bahia no Parlamento, secretário de governo em Sergipe e conselheiro imperial - e de Carolina Pinto Rebouças. Foi menino franzino e frágil, cuja saúde tinha sido abalada pela varíola já aos 4 anos de idade.

A família mudou-se para o Rio em 1842. Ali, André e seu inseparável irmão Antônio estudaram no Colégio Kopke, em Petrópolis, e depois, no Colégio Marinho, onde concluíram os estudos de geografia, latim, grego e inglês. Ingressaram no curso de Engenharia da Escola Militar enquanto sentavam praça como voluntários no 1º Batalhão de Artilharia a Pé e, em 1860, já engenheiros militares, foram promovidos a primeiros-tenentes. No ano seguinte, beneficiados com bolsas de estudos, embarcaram para Europa, onde durante um ano e meio estudaram engenharia civil e observaram obras como estradas de ferro, pontes e canais na França e na Inglaterra.

No retorno ao Brasil, não foi fácil para André e Antônio conseguirem emprego, apesar do trânsito de seu pai nos escalões políticos. Pesaram aí as limitações de um país sem empresas e, sobretudo, o preconceito racial. Mas eles persistiram na busca e acabaram nomeados para vistoriar as fortalezas do litoral sul.

Surgiriam outras oportunidades fora do Rio e, principalmente André, passou a destacar-se por seus projetos audaciosos, a maioria depois sabotada pela burocracia racista e pelo jogo político da época. Ele insistiu, por exemplo, na reforma e no reequipamento dos portos, propôs a criação de uma companhia de navegação ligando o Norte-Nordeste à Europa e a melhoria das comunicações. Mas não era ouvido.

Obras e amizade real

Na Guerra do Paraguai, André fez questão de atuar no front, apresentando-se como voluntário. E foi nesse contexto que começou, durante a visita do imperador Pedro 2º ao campo das operações de Osório, em São Francisco, sua estreita e longeva amizade com o Conde d´Eu, marido da princesa Isabel,  a qual lhe proporcionaria algumas vantagens em sua disputa com a burocracia preconceituosa e os interesses políticos dos que não lhe perdoavam a ousadia e independência partidária.

No retorno da guerra, após adoecer em 1866, desligou-se do Exército e viu frustrarem-se vários de seus projetos pessoais, inclusive o de tornar-se professor da Escola Politécnica (ex-Escola Militar), num caso de discriminação racial explícita. Sua sorte mudaria a partir de sua nomeação como engenheiro da Alfândega, incumbido de dirigir a construção das docas do Rio de Janeiro. Em seu currículo seriam depois incluídas as obras nos portos do Maranhão, de Cabedelo, do Recife e da Bahia, a idealização da estrada de ferro de Paranaguá e, principalmente, a solução da crônica falta d´água no Rio de Janeiro, com a construção de uma rede de abastecimento.

Na década de 1880, após retornar de um tour pela Europa e de uma visita a Nova York - onde sentiu de forma traumatizante o peso da discriminação racial -, André aliou à difusão de suas ideias liberais na economia e na política a um profundo engajamento na luta pela abolição da escravatura, tornando-se um dos principais esteios da campanha que culminou com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, em 13 de maio de 1888.
Pedro II (à esq.), a princesa Isabel e o condeu d´Eu foram grandes benfeitores de André, que retribuiu com lealdade a amizade iniciada na guerra do Paraguai.
Fidelidade até à morte

Amigo e admirador de D. Pedro 2º, no ano seguinte ele se manteria fiel à família real quando o imperador foi destronado pelos militares republicanos em 15 de novembro, numa ação que, para André, não passava de vingança dos latifundiários insatisfeitos com a libertação dos escravos sem que lhes tivesse sido pagas quaisquer indenizações.

Seguiu com o monarca para o vapor Alagoas, o navio que levaria a família real ao exílio. Passaria a viver em Lisboa, onde foi correspondente do jornal inglês The Times, até ser convocado por D. Pedro 2º a visitá-lo em Cannes, na França, dias antes de sua morte em 5 de dezembro de 1891. Profundamente abalado com esse fato, André decidiu rumar para a África, por ele cognominado “o continente mártir”, com a intenção de ajudar seus irmãos negros.

Passou por Zanzibar, na costa da Tanzânia, em Beira, Inhambane e Lourenço Marques (atual Maputo), em Moçambique, esteve em Angola e instalou-se no Transvaal, na África do Sul, onde se revoltou intensamente com a fome e a nudez dos negros, tendo ali montado um plano colossal para vestí-los que, ao mesmo tempo, poderia livrar as fábricas de tecidos da Europa da bancarrota. Mas em nenhum desses lugares conseguiu levar adiante seus projetos solitários e ousados. André sempre foi criativo, uma usina de idéias, mas era pouco pragmático para o olhar da maioria. Por último, fixou-se em Funchal, na Ilha da Madeira, onde morreria, pobre e deprimido, depois de recusar os apelos de amigos e familiares, e até ofertas de emprego, para retornar ao Brasil.

Espírito visionário

André Rebouças era um visionário. Sonhava com uma democracia expansiva num país de economia dinâmica, movida por empreendedores, mas sem injustiças e desrespeito aos direitos humanos. Achava que a escravidão e a pobreza se perpetuariam se, libertos, os negros não tivessem a terra nem os meios de fazê-la produzir. Pregava a reforma agrária e o acesso universal à escola, defendia salários justos, a competência no serviço público e o fim das discriminações.

Tinha senso de missão e espírito de sacrifício. Recluso, depois de um rápido período em que frequentou as altas rodas sociais do Rio de Janeiro e fez de sua própria casa um ponto de encontro de intelectuais, André atuou intensamente nos bastidores da campanha abolicionista, traçando estratégias. Arriscou-se ao ajudar escravos em fuga e aplicou parte de seus recursos para financiar a popularização das ideias abolicionistas, através da imprensa e da promoção de atos públicos.

Era, contudo, ponderado e racional. Não incitava revoltas nem atacava violentamente os senhores. Cultivava um estilo firme, mas sereno - só eventualmente mordaz em seus escritos -, nos quais se destacava a força de seus argumentos. Seu esforço visava demonstrar que o trabalho escravo era uma instituição anacrônica, injusta e impeditiva do desenvolvimento do Brasil.

               [Para saber mais sobre André Rebouças, clique aqui ]

Meus mistérios explicados


Se você não leu, ainda que parcialmente, os textos sugeridos no link acima, a partir deste parágrafo meu relato poderá soar mais estranho e sem nexo, pois lhe faltará a base para a conexão entre os dois personagens: André Rebouças e eu. Para mim, no entanto, se não bastasse a inexplicável e arrebatadora empatia que senti com aquela figura desde o instante em que vi sua imagem na página amarelada de “A Manhã”, saber que ele venerava Pedro 2º, que tinha um forte compromisso com a causa dos negros, que vivera os seus últimos dias em forte depressão e que despencara de um penhasco de quase 60 metros pareceu-me algo familiar e justificador de sentimentos e comportamentos meus que, até àquela tarde no bairro de Santo Amaro, soavam esquisitos.

Vejamos porque esses e outros detalhes constituem, pelo menos para mim, um laço que une dois personagens de um mesmo ator ou, numa expressão mais moderna inspirada na física, duas manifestações distintas de um mesmo “campo” :
1. A morte no penhasco

Até por volta dos sete anos de idade, eventualmente eu era atormentado por um pesadelo no qual sempre me via caindo de um rochedo muito alto, em forma de semicírculo. A rocha escura estava coberta por uma camada de areia grossa. Era uma noite escura, não havia estrelas e eu só conseguia enxergar as silhuetas do paredão. Então, de repente, eu me sentia despencando, solto no ar, embora eu nunca tenha experimentado no sonho o final da trajetória, o impacto do corpo na superfície (no pesadelo eu não percebia lá embaixo nem mar nem chão, só escuridão). Minha reação era de  pânico que não me deixava reagir, estava como que em estado de choque.

Nessa mesma época, passei por surtos depressivos cujos sintomas, de tão explícitos, levaram minha mãe a conduzir-me a um psiquiatra, em busca de remédios que me aliviassem. Tinha insônia e acalmava-me olhando para o céu estrelado e, quando estava na casa de minha avó paterna, olhando para o céu e para o mar. Era também uma época em que nos meus sonhos apareciam muitos negros, alguns parecendo zombar de mim, fato que, no contexto de racismo cordial do final dos anos 50, era interpretado por minha avó, evangélica - e negra! -, como uma tentação do “maligno”.

A intimidade com o mar, à noite, seguiria comigo vida a fora. Dos 14 aos 17 anos, costumava apreciar o Atlântico, na madrugada, do alto da avenida Getúlio Vargas, em Natal, onde às vezes me entretinha em conversas com os amigos João Freire da Costa e  Aderson Araújo, este já falecido. Mais tarde, já jornalista e dono de um fusquinha, expandi minhas jornadas noturnas à beira-mar.

Passando a residir em São Paulo, na segunda metade da década dos 70, o mar ficou distante, mas aprofundei-me nas madrugadas, sentindo-me à vontade no trabalho noturno, nas redações de jornais e revistas, enquanto muitos colegas se sentiam desconfortáveis. Em meados da década de 80, morando no Rio, voltei a aliar o mar às minhas madrugas e muitas vezes vi o Sol nascer em Copacabana. Nos fins de tarde, quando de folga do “Jornal do Brasil”, às vezes me dirigia à Praia do Pontal, então distante e desértica, e ali me demorava observando a paisagem marinha. Ainda hoje, não raro caminho à beira-mar à noite e me delicio com as águas ondulantes na escuridão. Faço-o sozinho, pois nunca gostei de frequentar praias sob sol intenso e cercado por multidões.

No Arquivo Regional da Madeira, a leitura das notícias sobre a morte de André Rebouças e a minha forte identificação com o personagem e sua morte deram-me, enfim, uma explicação para o pesadelo recorrente de minha infância e para a minha intimidade noturna e melancólica com o mar. Mas a “prova” definitiva surgiria para mim no dia seguinte, quando visitei o Reid´s Palace.

O hotel, uma construção imponente para os padrões do século 19, mudou de dono algumas vezes e hoje é um luxuoso complexo hoteleiro cinco estrelas que, tendo conservado o edifício central de 1891, ocupa agora uma área de quatro hectares de jardins subtropicais e vários edifícios modernos. Ali também funciona um spa requintado. Em 2010,  a diária no Reid´s variava de 240 a 2 200 euros.

Antes de me dirigir para o antigo Salto do Cavalo, observei o Reid´s e a falésia rochosa onde foi ele erguido do alto do forte da Pontinha, de onde se descortina uma vista espetacular da área (Clique Aqui para acessar minha reportagem sobre a Ilha da Madeira). Deu-se aí o meu primeiro espanto, pois o rochedo, tal qual o do meu pesadelo, apresenta um semicírculo do lado leste.

Logo depois, com a permissão que me foi dada para visitar as instalações do hotel, pude inspecionar o penhasco, chegando a intuir o local onde André poderia ter caído (não encontrei registros em documentos sobre esse detalhe), mas em seguida fui assaltado por dúvidas, pois o rochedo estava verde e florido em sua parte superior e em algumas brechas arenosas da escarpa e a imagem de minha infância era a de a uma rocha escura, praticamente sem vegetais.

Ao retornar à recepção do hotel, indaguei se havia algum livro que contasse a história do estabelecimento. Não havia, mas um dos atendentes orientou-me a descer ao 5º andar (há andares abaixo do nível da avenida Monumental, onde se encontra a recepção) pois lá funciona uma espécie de museu do Reid´s, com fotos e objetos que marcaram a trajetória glamurosa do hotel ao longo de seus 122 anos. Logo que cheguei ao pavimento, surpresa! Uma foto do local tirada do mar, na época da inauguração do Reid´s, mostrava o penhasco com seus paredões escuros quase sem a presença de vegetação. Assustei-me ainda com as fotos de alguns apartamentos da época, onde apareciam camas metálicas que me pareceram familiares e íntimas.
O Reids hoje: um luxuoso hotel e spa com
uma bela vista da baía de Funchal
O penhasco em semicírculo, hoje encoberto por vegetação, de onde André Rebouças caiu
O hotel e o penhasco do lado leste
no final do século 19
A edição de 8 de maio de 1898 do Correio do Funchal : a notícia da "morte desastrosa"
"Em 1976 o Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas, IBPP, sob a direção do dr. Hernani Guimarães Andrade, publicou o primeiro trabalho referente aos casos de reencarnação pesquisados no Brasil. Esse trabalho referia-se à monografia intitulada: Um Caso que Sugere Reencarnação: Jacira & Ronaldo.

Sua distribuição, gratuita, como as demais editadas pelo Instituto, foi dirigida aos interessados neste gênero de pesquisa parapsicológica e ultrapassou as fronteiras do Brasil e América do Sul.

Anos mais tarde, em 1988, A Casa Editora O Clarim, de Matão, Estado de São Paulo, lança importante volume de autoria de Hernani, abrindo significativo espaço para essa área de pesquisa em nosso país. Com o título Reencarnação no Brasil - Oito Casos que Sugerem Renascimento, a obra se torna um marco e fonte de referência mundialmente conhecida.

Ernani afirma que as ocorrências desse espécie não são raras e a sua aparente escassez deve-se à reduzida atenção dada às crianças de pouca idade, na época do afloramento das recordações reencarnatórias, o que normalmente ocorre, aproximadamente, entre os dois e quatro anos.

Nesta fase, explica Ernani, algumas crianças passam a revelar fatos ligados à encarnação anterior, os quais, se devidamente registrados por escrito, com a máxima precisão, especialmente quanto ao nome de pessoas, localidades, datas, etc, facilitariam a posterior investigação dos fatos. Infelizmente, lamenta o pesquisador, são raros os que se dão a tais cuidados.

O IBPP, contudo, ao longo dos anos, reuniu cerca de sessenta ocorrências, todas devidamente catalogadas e que sugerem reencarnação.

Metodologia de pesquisa do IBPP

O IBPP não usa nem a hipnose, nem a regressão de memória por se tratar de casos de recordações espontâneas, especialmente as afloradas na primeira infância.

Obtém-se os dados evidenciais através de coleta de informações fornecidas pelo próprio paciente e pelas pessoas -parentes ou estranhos- que presenciaram os fatos ou declarações feitas pelo paciente, durante sua meninice. Estes depoimentos são cuidadosamente tomados em separado, registrados e comparados uns com os outros.

Quando possível, conduz-se a criança ao local onde ela afirma ter vivido, a fim de fazer os reconhecimentos de particularidades e pessoas às quais esteve ligada na encarnação anterior.

Vários métodos são utilizados pelo IBPP durante os inquéritos e reconhecimentos, tais como escritas, gravações, fotografias e até filmagens.

O pesquisador Ernani esclarece que formulários utilizados são preparados previamente de maneira a não deixar dados importantes escaparem sem registro.

"Muitas informações complementares se tornam utilíssimas para o estudo aprofundado da reencarnação, tais como os seguintes: local e natureza dos ferimentos recebidos pela personalidade anterior, caso tenha sofrido morte violenta; duração do período de intermissão (tempo decorrido entre o desencarne e o novo nascimento); fatos ocorridos durante a intermissão; se o reencarne do paciente foi precedido de avisos ou sonhos anunciadores; características físicas e psicológicas da personalidade prévida e da atual; sexo da personalidade anterior; a causa mortis é um dado importante, pois pode ter influência na saúde e comportamento da personalidade atual. Todos os dados são relevantes e, por isso, os questionários costumam ser extensos e minuciosos".

Reencarnação: uma lei biológica

Para o fundador do IBPP as perspectivas nessa área podem ser consideradas satisfatórias e promissoras. E prevê: "a reencarnação, há algum tempo considerada uma simples crença e até mesmo uma superstição, está atualmente ganhando outro nível conceitual nos meios mais cultos. O conceito da verdade está, sem dúvida, na evidência dos fatos. Desse modo, podemos esperar serenamente que a reencarnação será, dentro em breve, reconhecida como mais uma lei biológica; talvez a mais importante de todas elas".

[ Do site Consciência Espírita ]
Rua do Riachuelo hoje. Antiga rua de Matacavalos, nela moravam funcionários da corte, inclusive o pai de André Rebouças e sua família. Em 1970, conheci-a, ainda repleta de casas e sobrados à moda do século 19, em um sonho, um mês antes de minha primeira visita ao Rio
Casarão onde a família de André Rebouças teria residido por pouco tempo em Cachoeira, na Bahia.
2. A moradia no Rio

A identificação com André Rebouças levou-me também ao esclarecimento de um fenômeno que aconteceu comigo no final de fevereiro ou início de março de 1970, já não lembro com exatidão. Aos 17 anos de idade, eu estava prestes a realizar a minha primeira visita ao Rio de Janeiro (uma aventura na qual eu e os amigos Aderson Araújo, João Freire da Costa, Carlos Morais e os casais adultos José Augusto da Costa e Iracy e Armando Tomaz e Lucy viajamos numa velha Kombi rumo a São Paulo ) quando, em pelo menos duas noites, sonhei que percorria uma rua do Rio de Janeiro de casario antigo. Não era uma imagem de cartão postal da cidade, mas ao sonhar eu sentia que estava no Rio e era como se aquela paisagem me fosse familiar.

Dias mais tarde, já hospedado na fronteira entre a Cinelândia e o bairro da Lapa, no centro do Rio, fui atraído pela imponência dos arcos da Lapa e, ao transpô-los e avançar  pela rua do Riachuelo comecei a reconhecer no casario antigo que ainda restava naquela via imagens muito semelhantes as que eu vira em sonho.

Na época interpretei aquilo como um fenômeno de viagem astral - isto é, durante o sono eu visitara aquela área que eu jamais tinha visto em qualquer foto antes da viagem. Mais de 30 anos depois, ao pesquisar sobre André Rebouças e descobrir que sua família residira no Rio na rua de Matacavalos, finalmente matei a charada daqueles sonhos, já que a antiga Matacavalos era o nome, no século 19, da atual rua do Riachuelo. Tratava-se de uma importante via de ligação do centro do centro do Rio com a região então periférica do Campo de Santana e era famosa pelos atoleiros de cavalos em dias de chuva. O nome atual foi dado em 1865, após a histórica batalha naval do Riachuelo.

O caso da Rua Riachuelo não foi o meu único dejà vu relacionado ao personagem André Rebouças. Quando visitei Lisboa pela primeira vez, em 1982, tive a impressão de andar por ruas já conhecidas nas áreas de Alfama, Rossio, Belém e Bairro Alto. André esteve em Lisboa várias vezes e, depois, viveu na cidade nos primeiros anos após a deposição de Pedro II. Também em 1982 eu passara um mês em Londres, num programa de intercâmbio, e em muitas ocasiões tive a impressão de estar diante de uma paisagem que eu já conhecia ao percorrer ruas que não são cartões postais da cidade, como é o caso das cercanias da estação de Charing Cross, o centro antigo da cidade. Eu me movia com facilidade em Londres, mas é curioso que, desde a adolescência eu tive muita dificuldade para lidar com o idioma inglês, que até hoje não domino, sabendo apenas o suficiente apenas para ler e para comunicar-me (em meio a gafes) em situações básicas com um vocabulário precário.

Em 1998, ao passar pela primeira vez na região de Coimbra, senti um grande abalo emocional. Eu estava num ônibus e a visão das montanhas e de uns raros castelos fizeram-se mergulhar numa nostalgia inexplicável, com imensa vontade de chorar. Em 2004, percorrendo o centro de Coimbra e a tradicional Faculdade de Direito de Coimbra a emoção foi sóbria, mas uma sensação de nostalgia me assaltou de novo enquanto eu percorria o pátio da faculdade e o subsolo de um dos prédios antigos.

No dia 23 de junho de 2009, estive em Cachoeira, no Recôncavo baiano, onde André Rebouças nasceu e viveu até os 4 anos de idade. No século 19, Cachoeira era um distrito de Maragogipe, mas já era um lugar importante na economia baiana, em razão de seu porto. Teve uma participação decisiva nas lutas pela independência do Brasil. Curiosamente, não experimentei um dèja vu ao chegar à cidade (eu já estivera lá,antes, como jornalista), exceto ao contemplar o rio Paraguaçu e a cidade de São Félix do outro lado da ponte. Com a ajuda de um professor de história local e de um velho jornalista de 90 anos de idade (desculpem-me por ter perdido seus nomes no emaranhado de minha memória, pois não fiz anotações) cheguei ao local onde a família de André teria residido até deixar a cidade: um casarão que pertencera a um barão, instalado no meio do casario da ainda chamada Rua do Brega, próximo ao antigo porto. Fiz fotos, mas a mente e o coração permaneceram sem se manifestar.

3. O amor por D. Pedro 2º

Quando estudante, ainda no antigo curso primário, ouvia e lia com interesse tudo o que se referia ao imperador Pedro 2º. Tratava-se de uma admiração espontânea que cresceu na adolescência, quando tomei conhecimento de seus atributos intelectuais e de seu caráter magnânimo, e se fortaleceu na fase adulta, quando passei a reverenciar a figura de Pedro de Alcântara quase que por impulso. É a emoção, e não a mente racional, que sustenta a minha visão do imperador como um homem bom, digno e injustiçado. Por ele sinto amizade, um sentimento que não eclode quando me refiro a outras figuras históricas.

André venerava Pedro 2º e é provável que essa admiração tenha surgido na infância por influência de seu pai, aliado e beneficiário do imperador. Pedro 2º foi seu patrocinador em várias ocasiões, embora não tenha conseguido impor sua vontade em alguns episódios, em razão da pressão de políticos e seus aliados na burocracia da Corte. O projeto de abastecimento d´água do Rio de Janeiro, uma das maiores obras dos irmãos Rebouças, concluída em apenas 30 dias, só virou realidade devido à disposição do imperador de avalizá-lo contra os burocratas e a oposição parlamentar.
Canes, 13 de maio de 1891  

Meu Mestre e meu Imperador.

Não passará o 3º aniversário da Libertação da Raça Africana no Brasil sem que André Rebouças, dê novo, testemunho de filial gratidão ao Mártir sublime da Abolição.

Sinto-me feliz por ter sido escolhido pelo Bom Deus para representar a devotação da Raça Africana a Vossa Majestade Imperial e à Princesa Redentora, e alegro-me repetindo-o incessantemente.

É hoje grato relembrar a síntese da nossa vida, como meu Bom Mestre disse no Alagoas quando comemoramos seu 64o aniversário.

Principiou em Petrópolis, em 1850, há quarenta e um anos, examinando-me em aritmética, ainda menino de colégio, e continuou, quase quotidianamente, nas lições e nos exames das Escolas Militar, Central e de Aplicação na fortaleza da Praia Vermelha, até dezembro de 1860.

Os anos de 1861 e 1862 foram de estudos práticos de caminho de ferro e de portos de mar na Europa. Á primeira Memória, escrita com o Antônio, datada de Marselha, em 9 de junho de 1861, foi   dedicada, como de justiça, ao nosso Bom Mestre e Imperador...

Quando Vossa Majestade encontrava meu Pai, suas palavras primeiras eram: - Como vão os meninos? -Onde estão agora? - Recomende-lhes sempre que estudem e que trabalhem.

Voltamos ao Brasil em fins de 1862, e encetamos a vida prática nos trabalhos militares de Santa Catarina, motivados pelo conflito Christie.

A 28 de dezembro de 1863 separei-me, pela primeira vez, do meu irmão Antônio. Começa daí em diante o período industrial da minha vida...

Vossa Majestade e meu Pai não queriam que eu tivesse uma orientação além da vida tranqüila da Ciência e do Professorado; mas, o visconde de ltaboraí, que também me devotava afeição paternal, dizia: - André!... Quero que você suceda ao Mauá ! ...
Sabe Vossa Majestade quanto sofri da oligarquia politicante e da plutocracia escravocrata nesses afanosos tempos... Só tenho hoje deles uma consolação: - Projetei e construí as Docas de  Pedro II, concebi e dirigi o caminho de ferro Conde d'Eu e sua bela estação marítima do Cabedelo.

Vossa Majestade gosta de recordar que, em Uruguaiana, salvamos juntos, pelo nosso horror ao sangue, 7000 paraguaios e centenas de brasileiros...

Na atual antipatia ao militarismo, apenas lembro-me dos trabalhos de Itapiru e Tuiuti.

Em 1880 começa a Propaganda Abolicionista. Nós, tribunos ardentes, só tínhamos uma certeza e uma esperança: o Imperador. Em 1871 havia Vossa Majestade concedido à Filha Predileta libertar o berço dos cativos com Paranhos, visconde do Rio Branco.

Em 1888 a iniciativa partiu d'Aquela que não pode ver lágrimas nem ouvir soluços de pobres, de infelizes e de escravos, no amor santo de Mártir do Cristianismo Inicial, aspirando menos à glória na Terra do que anelando a benemerência no Céu, junto a Jesus, o Redentor dos Redentores.

Enfim... Creio que podemos esperar tranqüilo o juízo de Deus; porque havemos cumprido sua grande Lei trabalhando pelo Progresso da Humanidade.

Agora só tenho a dizer-lhe que desde 15 de novembro de 1889 perdi a linha divisória entre meu Pai e meu Mestre e Imperador, e que é na maior efusão de amor que me assino, Com todo o coração...

André Rebouças
"De todos, aquele com quem mais intimamente vivi, com quem estabeleci uma verdadeira comunhão de sentimento, foi André Rebouças... Nossa amizade foi por muito tempo a fusão de duas vidas em um só pensamento: a emancipação. Rebouças encarnou, como nenhum outro de nós, o espírito antiesclavagista: o espírito inteiro, sistemático, absoluto, sacrificando tudo, sem exceção, que lhe fosse contrário ou suspeito, não se contentando de tomar a questão por um só lado olhando-a por todos, triangulando-a, por assim dizer - era uma de suas expressões favoritas - socialmente, moralmente, economicamente.
Ele não tinha, para o público, nem a palavra, nem o estilo, nem a ação; dir-se-ia assim que em um movimento dirigido por oradores, jornalistas, agitadores populares, não lhe podia caber papel algum saliente, no entanto ele teve o mais belo de todos, e calculado por medidas estritamente interiores, psicológicas, o maior, o papel primário, ainda que oculto, do motor, da inspiração que se repartia com todos (...).

Do seu quarto no Hotel Bragança, em Petrópolis, onde durante anos notara no seu diário a nossa pulsação comum, até o despenhadeiro do Funchal, que linha a que descreveu André Rebouças! Ele foi o cortesão do "Alagoas"... Um republicano, a quem veio a tocar na hora da amargura o papel de discípulo amado do velho imperador banido... Foi um industrial, um engenheiro ousado e triunfante, que acabou praticando o tolstoísmo... Foi um gênio matemático, um sábio, que reduziu a sua ciência a uma serpentina em que de tudo distilava a abolição... Seu centro de gravidade foi verdadeiramente sublime...
"

André Rebouças, na visão de Joaquim Nabuco
4. Afeição e compromisso com o negro

Percebo que André branqueou seu coração e seu comportamento pelo menos durante a primeira metade de sua vida. Acho isso compreensível, se considerarmos o peso da terrível discriminação contra os negros livres num país ainda escravocrata. Assimilar a cultura dominante do branco era a única saída para um negro talentoso e ousado não ver se fecharem todas as portas em seu caminho.

A formação acadêmica, a experiência na Europa, seu trânsito na Corte e na elite política e intelectual, as funções que desempenhou como funcionário público e sua vaidade levaram André a pensar um Brasil à moda britânica na política e na economia, temperado com a agressividade empreendedora dos ianques da América do Norte. Mas a dor de vítima de discriminação velada e explícita manteve seu coração alinhado com a liberdade e a justiça social.

A grande virada na direção da militância social aconteceu quando ele experimentou o horror do racismo nos Estados Unidos, durante sua visita a Nova York. Hospedado no Hotel Washington, ele foi proibido de frequentar o restaurante e instalado num apartamento lateral com saída direta para a rua. Foi impedido também de assistir a espetáculos de ópera em teatros da cidade, logo ele, amigo e benfeitor de Carlos Gomes. Ao retornar dessa viagem, André deixou de frequentar sarais na Corte e, associado a intelectuais progressistas, mergulhou por inteiro na luta abolicionista.

Eis aí um ponto de forte de nossa identificação. A saga dos negros africanos no Brasil sempre chamou a minha atenção. Quando criança, eu achava estranho e inadmissível as gravuras dos livros de história do Brasil retratando cenas de escravos e senhores. Um misto de piedade e indignação tomava conta de mim. Cresci numa ambiente de racismo cordial, onde o negro, mesmo aceito - quase sempre como serviçal - , era rotulado de burro e mau. Não entendia como até pessoas mulatas e negras, inclusive em minha família, reproduziam os chavões racistas. Ao contrário, eu sentia uma simpatia natural pela raça negra. Via beleza onde outros viam feiúra e sempre me emocionei com a herança estética e religiosa que nos legaram os africanos.

Até hoje tenho um profundo interesse na África, sobretudo Angola, mas sempre que penso em visitá-la (a exceção foi minha viagem ao Marrocos), logo encontro uma justificativa para não fazê-lo. Teria a ver com as frustrações e o sofrimento de André Rebouças em seu périplo africano, antes de fixar-se em Funchal?

5. Angústias do exílio

A identificação com André trouxe também a resposta mais convincente, pelo menos para mim, da forte e recorrente sensação de exílio que me acompanha desde a infância. Essa situação vinha junto com sentimentos depressivos e um princípio de pânico e, quase sempre, aflorava ao defrontar-me com textos, filmes ou situações da vida real que evocavam a separação entre pessoas queridas, reclusão forçada e exílio. Somente após eu ter adotado, há 12 anos, a prática regular de meditação, que nos leva a focar o presente reduzindo os devaneios, esse sintoma arrefeceu, sem, contudo, ter desaparecido totalmente.

Por volta de 1973, já não lembro a data precisa, tive a oportunidade ouvir de Odorico Tomaz, irmão já falecido do amigo Armando Tomaz, uma afirmação que, apesar de seu caráter bombástico, logo esqueci. Odorico, residente em São Paulo, era espírita e médium, estava em visita ao irmão, em Natal, e ao ver-me papeando com Armando disparou: você e o Armando estiveram juntos no passado. Armando era militar e você, um político. Ambos foram exilados depois de uma confusão na área do poder.

Ouvi-o atenciosamente, mas a verdade é que aquela afirmação só ganharia serventia para mim décadas mais tarde, quando as peças dispersas foram se encaixando após eu me ver naquele daguerreótipo da Confederação Abolicionista. Sim, André Rebouças não via com simpatia os partidos políticos, mas chegou a ser deputado do Império pela província de Santa Catarina por um curto período. Agiu intensamente nos bastidores do movimento político da abolição e do palácio imperial, beneficiado pela amizade com o Conde d´Eu e pela consideração que lhe devotavam D. Pedro 2º e a princesa Isabel.

5. Angústias do exílio

A identificação com André trouxe também a resposta mais convincente, pelo menos para mim, da forte e recorrente sensação de exílio que me acompanha desde a infância. Essa situação vinha junto com sentimentos depressivos e um princípio de pânico e, quase sempre, aflorava ao defrontar-me com textos, filmes ou situações da vida real que evocavam a separação entre pessoas queridas, reclusão forçada e exílio. Somente após eu ter adotado, há 12 anos, a prática regular de meditação, que nos leva a focar o presente reduzindo os devaneios, esse sintoma arrefeceu, sem, contudo, ter desaparecido totalmente.

Por volta de 1973, já não lembro a data precisa, tive a oportunidade ouvir de Odorico Tomaz, irmão já falecido do amigo Armando Tomaz, uma afirmação que, apesar de seu caráter bombástico, logo esqueci. Odorico, residente em São Paulo, era espírita e médium, estava em visita ao irmão, em Natal, e ao ver-me papeando com Armando disparou: você e o Armando estiveram juntos no passado. Armando era militar e você, um político. Ambos foram exilados depois de uma confusão na área do poder.

Ouvi-o atenciosamente, mas a verdade é que aquela afirmação só ganharia serventia para mim décadas mais tarde, quando as peças dispersas foram se encaixando após eu me ver naquele daguerreótipo da Confederação Abolicionista. Sim, André Rebouças não via com simpatia os partidos políticos, mas chegou a ser deputado do Império pela província de Santa Catarina por um curto período. Agiu intensamente nos bastidores do movimento político da abolição e do palácio imperial, beneficiado pela amizade com o Conde d´Eu e pela consideração que lhe devotavam D. Pedro 2º e a princesa Isabel.

6. A princesa e o conde

A princesa Isabel sempre inspirou-me admiração. Até aí nada demais. Milhões de brasileiros, certamente, a admiram pelo simples fato de ela ter sido colocada pela vida no centro de um acontecimento emblemático para o desenvolvimento social do país. Mas o que eu sinto, desde criança, é mais que admiração: é amizade. Estranha amizade por uma pessoa já falecida que eu não conheci, algo só esclarecido pelos dados sobre André Rebouças e sua ligação com Isabel, via o Conde d´Eu - ou
Luis Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans, o nobre francês, pertencente à família destronada pela revolução de 1848, o qual, casado em 1864 com a princesa Isabel, renunciou à nacionalidade francesa e virou marechal do Exército brasileiro. O detalhe curioso é que eu não sinto  um “registro” emocional da amizade com o conde, como acontece em relação a Pedro 2º e a Isabel.

Há pouco mais de três anos, no entanto, aconteceu um fato inusitado, enquanto eu conversava com um grupo de presos durante a minha atividade de meditação no Presídio Estadual de Parnamirim (RN). Na semana anterior, eu levara para o grupo livros usados que me foram doados com essa finalidade. Então, no encontro seguinte, um dos detentos aparteou-me e, aproximando-se com um livro aberto mostrou-me um texto que me deixou sem palavras. Tratava-se da transcrição do texto de abertura de um fascículo da coleção “Grandes Personagens de Nossa História”, da antiga Abril Cultural, que conta um episódio marcante da vida de André Rebouças.

O simples ato do detento de apresentar-me o texto já era de causar impacto. Por que o texto? Por que eu? Ninguém ali sabia, aliás só uns poucos amigos souberam antes do que agora exponho a vocês. Mas o mais impressionante - e que emocionou-me intensamente durante horas foi o conteúdo da história, que transcrevo abaixo, desconsiderando o entusiasmo literário do redator:

“ Toda a alta sociedade do Rio de Janeiro está reunida nesta festa. As condecorações reluzem no peito das casacas e uniformes. As senhoras, longos vestidos rodados, abanam-se com pequenos leques.

Num canto, os principais políticos do Império discutem a questão que empolga o Parlamento. Do outro lado, um jovem visconde declama soneto de sua autoria (...) Grandes candelabros iluminam a cena. A conversa segue alegre e sem compromissos. É apenas um sarau elegante para quebrar a monotonia das noites do Rio de Janeiro.

O piano toca uma nota. É o sinal. Os violinos chorosos começam a entoar a melodia. Uma valsa da moda. Os primeiros pares levantam-se para dançar.

O jovem, pouco mais de trinta anos, afasta-se do círculo em que conversava. Procura entre as moças presentes uma companhia para essa dança. Sua roupa é decente mas não ostenta medalhas ou brasões. Ele não é nobre, apenas um competente engenheiro.

Move-se com o desembaraço de quem está acostumado a frequentar recepções. Aproxima-se de uma jovem viscondessa e, com os gestos próprios de cavalheiro, convida-a para dançar. A moça vira-lhe o rosto. Recusa o convite. É uma grave ofensa. (...)

E, se alguém não soubesse a razão da recusa, poderia percebê-la observando o vestido muito branco da viscondessa, num contraste vivo com o rosto quase negro do rapaz. Todos disfarçam. O jovem continua imóvel, sem saber o que fazer, próximo à moça que o recusara.

Um homem vestindo uniforme de marechal interrompe o silêncio tocando o braço do jovem:

- Amigo, poderia fazer companhia à minha esposa nesta dança?

O rapaz sorri, a tensão desaparece.

O Conde d´Eu leva o copo aos lábios com um sorriso amargo. Que isso servisse de lição àqueles que pretendem medir um homem pela cor de sua pele. No imenso salão, o jovem André Rebouças e a princesa Isabel dançam uma valsa.”


Como se pesquisa os casos
sugestivos de reencarnação
Hernani Guimarães
Carta de André Rebouças para
Dom Pedro II
Dom Pedro II
Pedro II no Rio Grande do Sul, em 1865: no teatro da guerra.
Hotel Excelsior Inn, no centro de Assunção, onde
vivi momentos intensos.
Sala de estar da suíte na cobertura do Excelsior onde fui alojado, devido a overbooking: à noite,lâmpadas vibrando, estalos nas paredes e portas rangendo.
7. O Exército e os fantasmas paraguaios

Em nenhum momento de minha vida pensei em seguir a carreira militar. Na juventude, com o meu porte físico magro e deselegante, nem foi necessário esforçar-me para ser dispensado do serviço militar obrigatório. Mas a verdade é que o ambiente da caserna sempre provocou em mim admiração e os ritos militares, emoção. E isso antecede às amizades que acabei fazendo no meio militar durante a minha juventude e, mais tarde, como jornalista, no ocaso da ditadura militar que governou o país de 1964 a 1984.

Em algumas ocasiões tive a sensação psicológica de ser um militar, algo estranho que só se esclareceu para mim quando me identifiquei com a figura de André Rebouças. Ele e o irmão foram brilhantes engenheiros militares. Entraram e saíram juntos da caserna, mas só o tenente André apresentou-se, aos 26 anos de idade, como voluntário para a Guerra do Paraguai (saiba detalhes acessando os textos relacionados a esta matéria), durante a qual expôs ideias (a maioria rejeitada) para melhorar os acampamentos dos soldados, desenvolveu um torpedo utilizado contra os paraguaios e defendeu a tática de vencer o inimigo pelo cansaço, com o cerco de Uruguaiana, em vez de causar milhares de mortes com o bombardeio da cidade invadida.

André ficou um ano no front. Ao retornar em junho de 1866, depois de contrair varíola e outras doenças, deixou a vida militar.

Não sei se ele esteve em Assunção (não li nada a respeito e não me surgiu nenhum insight a propósito disso). Mas em janeiro de 2012, ao passar por Assunção, durante uma aventura mochileira pelo Brasil e a América do Sul, vivi uma experiência inusitada no coração da capital paraguaia.

Eu havia reservado pela Internet um apartamento do Hotel Excelsior Inn, anexo do luxuoso Hotel Excelsior, então em temporada de ofertas. O preço era alto para um mochileiro (100 dólares), mas eu presumia que àquela altura eu deveria estar muito cansado (eu viajava de ônibus) e mereceria um certo conforto para poder restaurar as energias e seguir adiante. Ao chegar ao hotel fui informado que o estabelecimento estava lotado, pois uma grande empresa brasileira decidira realizar ali sua convenção. A gerência do hotel, no entanto, gentilmente presenteou-me com a hospedagem na única área que não havia sido ocupada: uma penthouse, no caso uma suíte de sete dependências e varanda na cobertura do hotel, com vista do centro e área histórica de Assunção. Constrangido (de verdade), aceitei e fui sozinho para aquele desperdício.

Na primeira das duas noites em que fiquei no Excelsior não foi fácil adormecer. Ao apagar as luzes e deitar-me, passei a ouvir crepitações que pareciam ser produzidas no interior das lâmpadas. Julguei que se tratava de um fenômeno de estática, já que toda a suíte era acarpetada. Em seguida ouvi estalos secos, alguns fortes, outros fracos e, mais uma vez, considerei estar diante de um fenômeno estático. Mas, segundos depois, os barulhos se diversificaram. Ouvi uma porta rangendo, mas o som parecia proceder de uma das paredes do banheiro da sala de estar onde não havia porta. Outro barulho, ainda mais forte, procedia do teto, fazendo-me levantar e ir até a varanda para averiguar se alguma pessoa estava se movimentando àquela hora (cerca de 2h da madrugada) sobre a cobertura da suite ou se seria o vento, ao passar pelas frestas do enorme aparelho de ar condicionado, que estaria produzindo aqueles sons.

Por fim, novamente deitado, passei a ouvir vozes sussurrando e era como se fossem a mim direcionadas, acuando-me. E só então lembrei da atuação de André Rebouças na guerra do Paraguai. Um frio percorreu-me a coluna vertebral, senti então medo, mas treinado em situações de emergência em meus périplos pelo mundo, decidi entregar-me a Deus. Orei, emiti vibrações de paz para todos os envolvidos com aquele evento, reportando-me, inclusive aos mortos da guerra do Paraguai. Por alguns minutos ainda respirei consciente, meditando, e então adormeci. Na noite seguinte nenhum dos fatos relatados acima se repetiu.

8. Celibato, solidão e religiosidade

André Rebouças não casou. Não sei se há referências a esse lado de sua vida pessoal no que restou de seu Diário, ao qual tive acesso parcialmente, através de algumas transcrições feitas por terceiros. Ou em seu livro “Autobiografia”, hoje uma raridade que chega a custar até 5 mil reais em sebos do país. Mas entendo, não intelectualmente, mas por algo mais profundo nas entranhas da mente, sua vida de celibatário e seu comportamento retraído. Este é um dos pontos fortes de nossa identificação, embora eu tenha casado aos 22 anos e tenha filhos e netos.

O casamento surgiu por acaso em minha vida. Eu não cogitava casar, embora jamais tenha sentido repulsa ao casamento. Na infância era forte a minha intenção de seguir a vida religiosa como padre (fui coroinha e vivi momentos de espiritualidade intensa nessa condição), mas temia a reação de meus pais, que sempre tentaram me desviar da vocação religiosa, um obstáculo ao sonho deles de fazer de seu primogênito um homem “normal” e admirado, mais especificamente um médico bem sucedido, inclusive com as mulheres. Esse era um sonho padrão para muitas famílias nordestinas há algumas décadas.

Na adolescência, ao questionar o Catolicismo, esqueci a ideia de ser padre, mas não a vocação religiosa. Idealizei projetos nos quais eu aparecia como alguém mergulhado numa vivência evangélica de dedicação exclusiva ao próximo. Minha vida emocional quase sempre foi serena e discreta, algo que até hoje se espraia por todas as minhas circunstâncias e atividades. Mas a mente e o coração sempre foram usinas em permanente estado de criação ou, se quiserem, devaneios.

Nem a iniciação sexual precoce, por curiosidade, quando os hormônios me lançaram na “febre” conhecida de todo adolescente, afastaram-me dessa inclinação mística. Depois da iniciação com uma mulher bem mais velha que eu, durante sete anos dediquei-me exclusivamente aos estudos e à prática espiritual, agora no Espiritismo, área em que desenvolvi ampla atividade de assistência aos mais pobres, até que um dia Dona Fátima, então jovem, como eu, apareceu e enredou-me, fazendo-me mudar de plano, sem que até hoje isso tenha me levado a arrependimento.

Nunca imagino que minha vida poderia ser melhor se tivesse tomado outro rumo. Lá dentro, é forte a convicção de que a vida é o que é, é o que deve ser e isso dá-me a possibilidade de perceber permanentemente as dádivas, curtir e celebrar o que tenho,  ainda que quase sempre discreta e solitariamente. Penso que essa condição, emergente de minha percepção espiritual, é o que, nas últimas décadas, fizeram de mim uma pessoa em paz, com pouco estresse e saudável a ponto de até aqui, aos 60 anos, viver sem remédios (sequer analgésicos), sem a vacina da gripe e sem as queixas de boa parte dos homens e mulheres de minha faixa etária. Posso afirmar que a grande lacuna na vida de André foi a família - com suas venturas e dissabores - que ele não pôde constituir.

Não foi fácil para ele mover-se e brilhar no terreno minado da burocracia e do jogo político da Corte. Essa era uma de suas amarguras: a de sentir o peso da discriminação racial e da sabotagem aos seus projetos. Não recuou em seus princípios, mantendo-se longe das práticas mesquinhas, mas teve de assumir o risco de ser quixotesco em muitas ocasiões e de afastar-se das rodas sociais. Na volta da viagem dos Estados Unidos, onde vivenciou a humilhação a que eram submetidos os negros americanos naquela época, sua reação à hipocrisia foi afastar-se dos círculos onde ela era cultivada.

Em minha vida, não tenho registros de momentos assim. Fui privilegiado por seguir numa trilha onde, quase sempre, encontrei benfeitores inesperados (não necessariamente amigos), simpatia e ajuda espontânea, mas abominei o jogo sujo das patotas, das gangues corporativas e não temi fazer meu próprio caminho, jamais cedendo a apelos de adesão em troca de favores dos quais, graças a Deus, nunca precisei.

Quando me fundo mentalmente com André Rebouças sinto “sua” imensa solidão. Sinto-o (sinto-me) ilhado e, lá no fundo, incompreendido. Sinto-me alguém que, convivendo com tanta gente e tocando os corações e as mentes de tantos, não consegue encontrar uma única alma capaz de verdadeiramente compreender seu jeito incomum de pensar e de sentir a vida, as pessoas, as relações e os propósitos - suprema incompatibilidade que me leva a entender a solidão infinita da existência, vislumbrada pelos filósofos, ou a sentir-me na redoma da minoria da minoria, da minoria, da minoria... único, o que, de fato, cada um de nós é no doce mistério cósmico da diversidade na unidade.

Em André Rebouças, o racional e o emocional se relacionam sem dificuldade. O engenheiro Rebouças é racionalista, pragmático e empreendedor. O homem Rebouças, especialmente em contato com os seus amigos - e com mais ênfase na maturidade - é amoroso e leal, ético e místico, como sugerem suas cartas ao imperador destronado. Este é outro traço de sua psicologia com o qual me identifico completamente. Meu lado religioso aflorou na infância, sob a influência de minhas avós paterna e materna e de um tio, e até hoje é a guia de minha vida. Mas sou bastante racional na lida com as questões cotidianas, conseguindo dosar cérebro e coração, no seu desempenho. O rumo, no entanto, é sempre dado pelo coração, pela intuição.

Sou capaz de sacrificar o resultado de um trabalho de décadas e mesmo as minhas relações sociais sob a força de um insight surgido em momento de contemplação ou introspecção, aí incluídos a oração e a meditação. Isso me confere uma certa ousadia (talvez você chame isso de precipitação), fato que me impulsiona a novas experiências e dá-me uma certa liberdade em relação aos sucessos realizados. André Rebouças era assim.
Sou recluso, como André Rebouças foi, apesar de minha atuação social e minha movimentação na Internet. Mas sinto imenso prazer em viajar.

Percorri o Brasil e mais 30 países. Em metade dessas viagens estive sozinho, como jornalista ou como mochileiro, e enfrentei algumas situações que me fizeram pensar melhor a vida e entender o próximo.

Embora não programe, quase sempre chego aos destinos em noites de Lua cheia, o que me dá especial prazer.

Na foto ao lado, estou com a Fátima, cruzando o estreito de Gibraltar, em 2004, rumo ao Marrocos.
9. Astronomia e viagens

André gostava de astronomia, disciplina que chegou a lecionar no Colégio Militar. Tem tudo a ver comigo, embora eu tenha optado por ser jornalista e me envolvido, no caminho profissional, com assuntos mais terráqueos. Mas na infância e na adolescência não era assim.

Criança, eu era fascinado pelo céu, demorava-me na observação das estrelas e da lua. Uma de minhas maiores realizações nessa fase foi a ocasião em que pude observar o satélite da Terra através de um pequeno telescópio ao qual fui apresentado por um dos moradores da rua onde residia minha avó paterna. Adolescente, li o que pude sobre astronomia, um dos temas preferidos de minhas conversações, frequentei eventos sobre o assunto e aproximei-me de jovens que participavam da antiga Associação Norte-Riograndense de Astronomia. Acompanhei passo a passo a corrida espacial e movi montanhas para estar entre os jovens que tiveram a chance de assistir a um lançamento de foguete nos primeiros dias da base de lançamentos da Barreira do Inferno, em Natal.

Até hoje, tenho o hábito de observar o céu à noite, de preferência junto ao mar. Costumo recomendar aos que amo observarem a Lua se, após a minha morte, algum dia sentirem saudade de mim.

As viagens pelo Brasil e pelo mundo marcaram a vida de André, desde a infância. Também eu, desde a infância, desejei fortemente viajar para descobrir o mundo e até hoje tenho nisso um grande prazer. O jornalismo proporcionou-me a realização desse sonho muito antes que eu me tornasse um mochileiro.

Um detalhe curioso é que, desde a minha primeira grande viagem - entre Natal e Salvador, no início dos anos 1960 -, durante anos cultivei o hábito de anotar tudo o que vi e vivi em meus périplos, algo que aposentei durante as muitas viagens jornalísticas, tendo resgatado parcialmente esse costume ao passar a fazer relatos de aventuras mochileiras em meu site.

Como muitos intelectuais do seu tempo, André cultivou um diário onde registrou seus projetos, suas viagens, seus embates, seus relacionamentos e algumas de suas dores. Aos 13 anos de idade iniciei o meu diário, anotando minhas impressões sobre o dia a dia em um caderno escolar. Durante alguns anos, preenchi alguns cadernos. Abandonei o hábito quando o casamento e as refregas da profissão me desviaram de meus momentos introspectivos, mas ao comprar o meu primeiro computador - um velho Apple de 1981, que mais parecia um brinquedo - retornei às anotações, agora em disquetes flexíveis que um dia, incomodado com o teor malicioso de meus registros sobre o lado oculto da política e sobre a minha intimidade, destruí com uma tesoura. Na época, pensei: isso não acrescenta nada à vida pessoas. Ainda não mudei de ideia.
A foto ao lado foi clicada em Belém,  Lisboa, em janeiro de 2005. Nela apareço junto a minha mãe e ao meu pai, que naquele ano completariam 70 e 80 anos de idade, respectivamente.

A viagem foi um presente que lhes proporcionei, aproveitando a minha alta milhagem no programa Smiles, pois ainda não havia me aposentado e acumulava muitos pontos com minhas viagens profissionais.

Na madrugada desse dia, na cama do Hotel Vip, pela primeira vez, desde a infância, revivi o pesadelo do penhasco e tive a revelação: André Rebouças caiu; ele não é suicida.
10. André Rebouças cometeu suicídio? Digo que não.

Desde a queda no penhasco, a versão mais difundida sobre a causa da morte de André Rebouças tem sido a de que ele cometeu suicídio. Há indícios fortes para se levar a sério essa versão. André estava deprimido e recluso, segundo se disse à época, e parecia transtornado após ler as últimas cartas que chegaram do Brasil. Seu amigo Carlos Gomes, que conversara com ele dias antes da tragédia, relatou que o encontrou bastante perturbado, apresentando sinais de desequilíbrio.

Há algum tempo André andava doente, debilitado, mas ainda forte (e orgulhoso) o suficiente para recusar todos os convites de familiares e amigos para que retornasse ao Brasil, inclusive com a garantia, dada por seu amigo Taunay, de que ele retornaria ao seu emprego de professor na Escola Politécnica. Doença e pobreza parecem tê-lo conduzido a surtos psicóticos. Numa situação como essa, não é improvável que alguém atente contra a própria vida.

Em 2005, no entanto, sem que pensasse previamente no tema, um insight ocorreu-me da forma mais inesperada e, desde então, afirmo (mesmo sem provas materiais) que André Rebouças não foi suicida, pelo menos intencional.

Em janeiro daquele ano eu voava para Lisboa, na companhia de meus pais, a quem eu decidira presentear com uma sonhada viagem à Europa, em comemoração aos seus aniversários de 80 anos (meu pai) e 70 anos (minha mãe). Voáva-mos num velho avião da então agonizante Varig, o qual enfrentou uma séria turbulência sobre o Atlântico, deixando-nos a todos apreensivos. Como eu e meus pais estávamos alojados na traseira da aeronave, os efeitos eram sentidos mais intensamente. As poltronas estalavam, toda a estrutura da cauda do avião balançava fortemente, sentíamos sucessivas quedas que empurravam nossos corpos para cima. Senti medo e orei, pedindo a Deus que me ajudasse a acatar o que viesse a acontecer, mas, lá no fundo, querendo mesmo que ele nos tirasse daquela situação.

Foi então que, em meio ao sufoco, uma voz interior ecoou dentro de mim e percebi que se tratava de Luiz de Andrade. Pedia calma, garantia que a viagem seria completada e, para minha surpresa, anunciava que eu iria ter uma nova revelação sobre o “nosso” passado em Portugal. Pouco depois a calma voltou, externa e internamente, e eu conjeturei que a tal revelação seria sobre a passagem de Luiz de Andrade por Coimbra.

Em Lisboa, esqueci completamente esse assunto, mas na minha segunda madrugada na cidade fui abalado por um acontecimento inesperado. Pela primeira vez, desde que o fenômeno cessara na primeira infância, revivi o pesadelo em que me via sobre um penhasco, numa noite escura e sem estrelas. O detalhe novo é que agora eu me via sentado sobre a ponta de uma pedra e as minhas sensações e sentimentos pareciam mais claros do que no pesadelo da infância.

Eu estava triste, deprimido mesmo, e sentia uma forte dor no peito. Quando a dor aumentou, a ponto de eu não suportá-la, tentei levantar-me e caminhar sobre as pedras. Então, tropecei e precipitei-me na escuridão vazia. Acordei gritando, suado, e com uma convicção: André Rebouças sou eu e não sou suicida.

Durante o pesadelo, ao que tudo indica, eu havia parado de respirar. Acordei ofegante. Cheguei a pensar que isso acontecera devido a uma crise de alergia ao cobertor e ao carpete do apartamento. Nas noites seguintes, porém, dormi em paz.

Desde então, nenhum outro insight sobre André Rebouças ocorreu-me.

Lembrar para quê?

E assim chego ao final de meu relato. O que você acha dele é de sua responsabilidade, mas eu precisava contar-lhe essas coisas.

Há muitas alternativas de explicação para o que aconteceu comigo e elas parecerão convincentes ou não conforme as crenças que regem a vida de cada um.

Prefiro ficar com os ensinamentos das grandes tradições espirituais sobre a consciência, o espírito, e a roda das encarnações - com ou sem a acentuação de um “eu” que tanto prezamos em nossas cogitações de uma imortalidade egóica e não transcendental ao constructo do ego. Na verdade, prefiro ficar com a vida e com a experiência que ela me proporcionou.

Não vejo sentido em alguém aplicar seu tempo na tentativa de descobrir o seu passado, esquecendo a dádiva do presente, única dimensão do real. Até por pragmatismo, entendo que, se a vida nos dotou com a incapacidade de reter na memória até a totalidade dos fatos vivenciados nas últimas 24 horas, é que o esquecimento é necessário à harmonia do ser.

Mas se a própria vida também nos concede a chance de eventualmente experimentar recordações espontâneas, como essas que acabo de relatar, é porque delas necessitamos para realizar inferências que nos salvem do único esquecimento, a meu ver, pernicioso a todos: o esquecimento de que somos algo além da forma física, somos consciência criadora e não meros epifenômenos de reações químicas no contexto de um universo uno e misterioso.

Minha gratidão a Deus, a todos, a tudo.

Comentários de leitores
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J. A. C., 22/12/13 - Bom dia, Sr. Jomar, neste domingo nublado fui surpreendida por teu relato, que me prendeu por uma boa hora. Ontem, após o almoço, sem espírito para os meus estudos fiquei procurando nos meus links favoritos uma distração; no youtube, a história do desencarnar de um homem, noutro link ao lado, um filme completo que narra a história de uma americana e as relações entre sua vida passada e presente "Minha vida na outra vida"; assisti ao filme e pronto...mas hoje pela manhã ao ler teu relato fiquei deveras inquieta, e quando cheguei à tua homepage chorei mesmo sem visualizá-la. Pergunto: Nos relatos de André ele menciona grupos de ciganos, ou qualquer grupo de nômades?

Jomar Morais, 22/12/13 - Prezado (a) J. A. C., obrigado pela leitura de meu relato. O filme "Minha vida em outra vida" é, de fato, muito interessante e baseado em um caso real. Não tenho nenhuma informação sobre referências de André Rebouças a ciganos.

Aldenir Dantas, 22/12/13 - Caro Jomar, como diriam os adolescentes, seu relato sobre reencarnação ficou "tudo".
Mesmo conhecendo o amigo há algum tempo, fiquei deslumbrado com sua publicação.
Como não poderia ser diferente, pode-se identificar nela o experiente jornalista e o homem espiritualizado que consegue tratar de um assunto de tamanha envergadura sem apegos às particularidades que enchem os olhos de muitos.
Além de "tudo", talvez para dar um pouco de leveza ao tema, tão sério, o
amigo adicionou uma pitada de humor de modo que, não consegui conter o riso quando li "Fui Negão"
Obrigado, amigo, por esta pérola com que nos presenteia neste Natal.
Grande abraço.

Jomar Morais, 23/12/13 - Aldenir, querido amigo, escrevi o relato com o coração e com um profundo desejo de partilhar minha vida (um pouco mais) com os amigos e demais irmãos do caminho. Sempre podemos aprender uns com os outros.Em algumas de suas últimas cartas, André se referia a ele como o "Negro André". Bom, agora você já sabe que tem um amigo Negão (rs rs rs), eu mesmo, com satisfação. Grande abraço.

Olga Coelho de Andrade, 22/12/13 - Jomar, fiquei maravilhada com o seu texto! Abri o Face para procurar algo que nem lembro mais o que era e dei de cara com o "Fui Negao". Lembrei de uma palestra na SECA, em que você se referiu a Andre Rebouças e falou que um dia voltaria ao assunto. Comecei a ler e só consegui parar no final. Muito bom! Abraços!

Jomar Morais, 23/12/13 - Caríssima Olga Coelho de Andrade
, grato pela leitura do texto. Na época daquela palestra eu já estava motivado a escrever o relato agora publicado, mas ainda hesitava. Depois decidi fazê-lo com determinação.

Fernando de Sá Leitão, 22/12/13 - Estimado amigo Jomar, li com interesse suas bem urdidas linhas e entrelinhas recheadas de sentimento e reflexões oportunas para àqueles que se identificam seres transcendentes a materialidade das coisas.
Quantas experiências acumulamos dos caminhos e descaminhos que percorremos no périplo da consciência, às vezes como peregrinos, outras como andarilhos?
Caminhemos, pois os horizontes se ampliam. Forte abraço.

Jomar Morais, 23/12/13 - Caríssimo Fernando De Sá Leitão você é companheiro de jornada. Obrigado por sua amizade e por seu apoio, fundamental neste trecho do caminho. Abraço!


Nássaro Nasser, 22/12/13 - Você vai ser processado duplamente: porque usou 'negão', politicamente incorreto, e por que rejeitou sua brancura, não adianta se por motivo de reencarnaçãokkkkkk um abração.


Jomar Morais, 23/12/13 - Caro Nássaro, obrigado pelo acesso ao meu texto e pela "advertência". Na próxima vez em que eu escrever sobre o tema, deixarei de ser negão e me tornarei "afrodescente"...rs rs rs Quanto à minha brancura, são os seus olhos (justifico no próprio relato). Abração, amigo!

Patrícia Cristina, 23/12/13 - Caro Jomar! Que relato emocionante! Voê é uma luz! Bjos no seu coração!!!!

Jomar Morais, 24/12/13 - Obrigado, Patrícia, pelo carinho. Grande abraço!

Anunciada, 24/12/13 - Meu amigo Jomar, cada dia mais o admiro e lhe quero bem. Certo dia após uma de suas visitas em nossa casa eu comentava  com Aldenir da felicidade que tinhamos em conhecer pessoas tão especiais, tipo Jomar Morais. Vou deixar apenas o coração falar desse sentimento tão nobre que mora em nossa alma por sua pessoa.  Também tenho pele escura, hein? Grande abraço, amigo!

Jomar Morais, 25/12/13 - Caríssima Anunciada, você, o Aldenir e sua linda família são companheiros de jornada muito especiais para mim. São pontos de apoio que me sustentam e nos quais restabeleço energias para a caminhada da vida na alegria da amizade sincera e espontânea. Eu admiro, respeito e querendo um bem danado a vocês. Será que isso começou no século 19? rs rs

Valquíria Félix, 24/12/13 - Mesmo conhecendo essa sua estória, fiquei  impressionada com a riqueza do seu relato e pelas ilustraçõees e documentos anexados. Sempre tive vontade de saber detalhes e conhecer mais a fundo todos esses acontecimentos a fim de fortalecer ou não, as minhas convicções. Agora , fiquei mais curiosa e interessada. Parabéns duplicados, pelo privilégio da experiência e pela capacidade de investigação e registros.

Jomar Morais, 25/12/13 - Pois é, caríssima Valquíria, essa vida nos contempla com uma (ou muitas) surpresas a cada dia. Estou à sua disposição para conversarmos. Estou feliz por você ter acessado o meu relato. Obrigado pela paciência em ler um texto tão longo, sintetizei o que pude. Obrigado por sua amizade e por me ajudar de modo tão fraternal, com sua presença, seus conhecimentos e sua generosidade.

José Ramos Coelho, 30/12/13 - Comovente e profundo relato de alguém que, depois de escrever com brilhantismo sobre tantas coisas e lugares, agora se permite ser o jornalista de si mesmo, dissecando a própria personalidade a partir de uma psicologia comparada de múltiplas existências. Extraordinário, belo e genial depoimento, amigo Jomar!

Jomar Morais, 31/12/13 - Obrigado, caríssimo Ramos, pela paciência de ler o texto demasiado longo e por sua avaliação generosa e fundamentada em sua competência como filósofo e doutor em psicologia. Estamos juntos. Grande abraço.

Graça Mafra, 01/01/14 - Esta leitura me prendeu do começo até o fim, achei muito interessante tudo, te admiro muito como pessoa e palestrante. Que bom que tirasse a dúvida sobre o suicídio ou não de André Rebouças. Que 2014 possas sempre comparecer a S E C A. Muita Paz.

Jomar Morais, 01/01/14 - Graça, muito obrigado pela leitura do texto e por seu interesse. Saiba que também tenho muito consideração a você e aos amigos da SECA. Estamos juntos!

Nelson Dantas, 06/01¹4 - Jomar, embarquei na sua viagem.

Jomar Morais, 13/01/14 - Boa viagem, Nelson!

Esmeraldo Tomaz Villas-Boas, 13/01/14 - Boa noite Jomar. Aprendi com a idade a ler e, escutar com o coração da alma. Seu relato me emocionou muito. Sinceramente, me identifiquei muito com o contexto do texto do seu depoimento. Também não nutria planos de me casar e, como você nunca me arrependi de ter me casado.  Me casei com a pessoa certa na hora certa. A minha história com a minha esposa, foi aos poucos sendo iluminada pelas bençãos da compreensão da vida material através da reencarnação. Talvez você não saiba mas, o meu pai sempre comparava o meu temperamento com o seu. O meu filho, antes de reencarnar, foi descrito por vários médiuns do Movimento Espirita do RN e, da ecumênica Arte Mahikari. Para quem não pretendia se casar, casei até demais. Me casei no civil, na Igreja Católica (por vontade da família de minha esposa) e, no lindo Culto da Arte Mahhikari. Na verdade, o tempo me faz mais tolerante e, menos radical. Você é um amigo e, irmão muito querido de todos nós. Minha mãe e, meu pai sempre nutriram um grande carinho por você como se fosse filho deles também. Obrigado amigo! Que Deus sempre te inspire nessa sublime missão de levar a todos a Comunicação!

Jomar Morais, 14/01/14 - Caríssimo Dinho, lembro, sim, quando seu pai comparava seu jeito recatado ao meu. O velho Armando é amigo e pai, foi muito importante na minha formação. Dona Lucy sempre me acolheu com carinho maternal. Logo, estamos juntos, caro amigo. As lembranças são das mais felizes. Obrigado pela paciência que teve para ler o meu longo relato. Abração extensivo a toda à sua família.

Ramalho Costa, 21/01/14 - Relato emocionante. Sempre que estou vacilante inspiro-me em você. Grande abraço.

Jomar Morais, 21/01/14 - Meu caro Ramalho, obrigado de coração pela expressão de sua amizade. Respeito muito você. Estamos juntos.

Dioberto Nascimento, 21/01/14 - Jomar, acabo de ler o seu impressionante relato, Fui negão. A leitura me prendeu do início ao fim, a ponto de me emocionar.abs

Jomar Morais, 21/01/14 - Meu caro Dioberto Nascimento, sou muito grato por sua gentileza (e paciência) em ler meu relato tão extenso. Também me emocionei bastante enquanto escrevia o texto. Grande abraço!

Marilda Nascimento, 21/01/14 - Dioberto leu alguns parágrafos em voz alta para eu ouvir, pois estava atarefada nos serviços domésticos rsrsrs Também fiquei impressionada e emocionada. Muito lindo Jomar.

Jomar Morais, 21/01/14 - Obrigado, Marilda, pela atenção dada ao meu relato. Muita paz.

Lourdes Dantas, 12/02/14 - Jomar, li este relato emocionante e fiquei surpresa em descobrir mais esse aspecto interessante de sua personalidade, que eu já admirava. Imagino a intensidade das emoções que você sentiu vivenciando essas lembranças do passado. A riqueza de detalhes, sua persistência na constatação dos fatos e documentos, as viagens, enfim, tudo nos impressiona na sua busca pela integração desses elementos que até então estavam dispersos em seu íntimo. Com tais revelações, certamente você "encaixou" as peças que faltavam no quebra-cabeça! Parabéns pela realização dessa ousada viagem ao "país de si mesmo", e obrigada por compartilhar esta interessante reflexão, que nos inspira a também alçarmos vôo ultrapassando a barreira espaço-tempo!...

Jomar Morais, 13/02/14 - Caríssima Lourdes, realmente este evento mexeu muito comigo. Tudo emergiu das profundezas da mente espontaneamente, fazendo-me entender melhor a mim mesmo e à minha vida. Obrigado a você pela leitura do texto e por suas considerações.

Teresinha Medeiros, 24/02/14 - Parabéns por mais uma artigo belissimo os quais  fazem parte das suas experiências fantásticas...Histórias lindas, relatadas com tanta riqueza de detalhes! Adorei, chorei e me emocionei...
Um abração!

Jomar Morais, 25/02/14 - Caríssima Teresinha, seu depoimento também me emociona. Obrigado pela atenção dedicada ao meu texto e pela gentileza de enviar-me seu feed back fraternal. Grande abraço!

Mackenzie Melo, 13/04/14 - Querido André, quer dizer, Caro Sr. Jomar, bom dia. Ontem fui dormir sob os influxos de aproximadamente 70% do seu texto e mais a leitura parcial das suas sugestões de artigos e teses adicionais acerca de André Rebouças. Morfeu, entretanto, chamava e não me permitiu concluir.

Agora são 9:32 em Salem, MA e termino a leitura - sempre prazerosa nos caso de seus textos - de seu relato e não me surpreendo nem um pouco com as suas conclusões, afirmações, mas principalmente reflexões que nos ajudam a pensar e repensar acerca da vida e como a temos vivido.

Mais uma vez, tenho que agradecer pela inspiração que sou capaz de perceber vinda do Sr., me ajudando a seguir caminhando em busca desse aprimoramento no presente, preparando caminhos, plantando sementes, sendo grato e, acima de tudo, amando a tudo e a todos para dar de volta o tanto que recebo.

Obrigado Sr. Jomar, meu querido André, por ser essa força, fisicamente longe, mas sempre presente virtualmente (espiritualmente?) em minha vida!

Jomar Morais, 13/04/14 - Querido Mackenzie, você sempre está presente na lembrança e na vida de todos os que o amam e admiram , aqui na esquina da América do Sul. É dispensável dizer que estou nesse grupo. Obrigado pela paciência em ler todo o meu texto e os anexos, com certeza com o seu coração generoso, mas também com o seu espírito crítico e a intimidade com a pesquisa de informações. Agradeço a Deus por contar em minha caminhada atual, com alguns amigos sinceros que me aceitam com os meus limites e me incentivam a realizar o que tenho de realizar no cantinho da vida em que fui colocado pelo Amor que tudo cria, tudo sustenta e tudo transforma. Abração, Mackenzie. Parabéns pela trabalho espiritual que você realiza neste momento, na seara espírita. Saudade, mas estamos juntos!
 
Nota de 22 de junho de 2020:

Em janeiro de 2018 Jomar Morais esteve na África do Sul e em Moçambique e ali refez o caminho percorrido por André Rebouças durante seu auto-exílio, antes de instalar-se em Funchal, na Ilha da Madeira. Locais onde ele viveu, fotos e muitos documentos da época, paisagens de Barberton e Maputo frequentadas por Rebouças e novos insights foram incluídos, juntamente com o relato acima, na segunda parte do livro Reencarnação - Evidências, Dúvidas e Controvérsias em Torno de Uma Crença Universal, publicado por Jomar Morais em junho de 2019. O livro é um estudo interdisciplinar sobre reencarnação e inclui abordagens de diferentes tradições religiosas, da filosofia e dos cientistas que estudaram o fenômeno no século 20.

Clique e saiba mais sobre
o conteúdo livro
Reencarnação e onde e como adquiri-lo.
Assista ao vídeo
da jornada de Jomar Morais na
África do Sul e
Moçambique.