Ano 27                                                                                                                              Editado por Jomar Morais
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conto das terras do mericó - 3
por Aldenir Dantas *
A traíra de Zeca Preto
"Enquanto, de pé e com as mãos na cintura, a mãe respondia às
perguntas do agente, os filhos foram aparecendo, um a um, e,
pendurando-se em sua saia, formando uma escadinha espiralada."
Novidade em Mericó. Uma equipe formada por três guardas, fardados de cáqui, passou a ocupar uns aposentos ociosos, colados ao muro da prefeitura e a visitar as casas da cidade e da zona rural. Eram os agentes da SUCAM, popularmente conhecidos como Guardas da Malária, mesmo não sendo aquela região propícia a esse tipo de endemia. E assim, rua acima, rua abaixo, de casa em casa, orientavam a população sobre a prevenção de doenças, com um enfoque maior ao uso da água, que deveria ser filtrada ou fervida. Também procuravam e pulverizavam focos de mosquitos ou de outros insetos que pudessem causar danos à saúde dos mericoenses.

Pouquíssimas pessoas, naquela época, possuíam um filtro em casa. A grande maioria usava um pote na sala e, acima deste, uma copeira presa à parede de onde pendiam os copos usados no dia a dia.  Em geral, os potes tinham um pano limpo preso à boca por um nó que, além de evitar a entrada da sujeira, dificultava a ação dos meninos arteiros.

Os copos de alumínio, geralmente areados, brilhavam demonstrando extremado cuidado com a limpeza. Havia um caneco com asa com o qual se tirava a água, para depois despejá-la nos copos onde se bebia. Assim, por uma questão de higiene, jamais se mergulhava no pote, um copo em que alguém tomou água.

Mas, muitas vezes, ocorre que à pobreza somam-se outros agravantes, como a ignorância e suas conseqüências, dentre estas, a falta de noções básicas de higiene e um quase total descontrole dos cuidados mínimos necessários à administração de uma casa. E, nesses casos, a situação fica pior quando na casa há crianças. Era este o caso da família de Zeca Preto, com sua mulher Severina Fateira e seus cinco filhos, no dizer popular, pequenos de cobrir com um balaio.

Porque Zeca recebeu essa alcunha, nem ele sabia. Afinal de contas, não era negro. Pelo contrário, era até meio agalegado, apesar de ter o cabelo ruim. Quanto a sua esposa, pelos longos anos de trabalho na matança, tornara-se uma especialista em tratar de fatos, como eram chamadas as vísceras dos bodes, porcos e bois abatidos, cuja carne abastecia a feira de Mericó.

Numa manhã, bateu à porta de dona Severina um dos guardas para a inspeção de rotina. Pedindo um tempinho, ela correu e, com um punhado de areia e dois sabugos de milho, apanhou as fezes de um dos meninos cujo odor encharcava as narinas de quem chegasse à porta. Desculpou-se, fez um ar de riso, esfregou as mãos na saia e apertou a mão do guarda, fazendo-o entrar e sentar em um dos poucos tamboretes que compunham a mobília da sala.

Vasculhando o espaço com o olhar, ao mesmo tempo em que conversava com a dona da casa, ia ele identificando as deficiências higiênicas da família, a começar pelo chão de barro batido manchado e exalando um cheiro acre. As paredes de taipa decoradas com retratos de santos, artistas e páginas de fotonovelas, eram um convite aos insetos pelas muitas frestas no rebouco.  

Enquanto, de pé e com as mãos na cintura, a mãe respondia às perguntas do agente, os filhos foram aparecendo, um a um, e, pendurando-se em sua saia, formando uma escadinha espiralada. A maioria não usava roupas. Todos estavam descalços. Alguns traziam até três dedos enfiados na boca. Quase todos tinham remela nos olhos, barrigas salientes e, pela aparência, há dias não tomavam um verdadeiro banho.

Após discorrer longamente sobre os cuidados básicos que se deve ter com a saúde, especialmente em relação às crianças, o guarda visitou o quintal, fuliou um formigueiro com formicida e chamou a atenção para os riscos de acidentes com insetos ou cobras no manuseio da lenha acumulada para o uso doméstico. Tudo observou e comentou, sob os olhos e ouvidos atentos da dona da casa que, sem tirar as mãos na cintura, concordava ora com a cabeça, ora com um sim sinhô desajeitado. Por fim, antes de afixar na porta da sala a ficha com o registro da visita, voltou-se para inspecionar o pote.

Ao contrário da maioria das casas, ali não havia copeira, nem copos. Havia apenas um caneco feito de lata de óleo Benedito, encardido, emborcado à beira da boca do pote. Deduziu: com aquele copo, todos tomavam água. Estando a jarra com a boca descoberta, resolveu averiguar melhor a situação e, tirando uma lanterna da sacola de paramentos, focou o interior do pote. Além de algumas piabas, divisou, repousando no fundo turvo, um objeto escuro.

- Minha senhora, tem alguma coisa estranha dentro do seu pote.

- Não, seu guarda! Não é nada não! São umas piabinhas que Zeca botou. E pra comer os martelos e limpar a água.

Não dando atenção à explicação, arregaçou a manga da camisa até quase o ombro, enfiou o braço na água fria e pegou o objeto.

- Senhora Dona Severina, aqui no seu pote não tem só piaba. Tem também uma traíra. E de bom tamanho. Veja só!

Falou erguendo a mão e mostrando uma velha bota de soldado, desfigurada pelo longo tempo que passara submersa.

- Minha Nossa Senhora, seu guarda! Essa bota de Zeca trabalhar desapareceu daqui de casa já faz quase um ano. Isso só pode ser coisa de menino!
* Conto integrante do livro inédito Histórias Mal Contadas das Terras do Mericó.
Aldenir Dantas é poeta e escritor, especialista em
Ensino à Distância e mestrando em Ciências da Educação

Comentários
Mário Soares, 03/05/13 - Êtcha história danada de boa e, podes crer, isso ainda acontece fora de Mericó nesse Brasilzão real.

Carlos Hugo, 06/05/13 - Me sinto muito privilegiado em ter conhecido o Aldenir. Sua escrita me faz ser um hóspede de Mericó. Hóspede, por enquanto, pois estou me tornando um habitante contumaz desta cidade. Acredito que o Aldenir ainda tem muitos causos sobre este povo. Vamos lá Aldenir... conta-nos mais. Abração.

Jomar Morais, 07/05/13 - E nós do PJ, prezado Hugo, também nos sentimos privilegiados em contar com a amizade e o talento do grande Aldenir Dantas e, de algum modo, contribuirmos para que mais pessoas conheçam sua prosa e sua poesia.

Aldenir Dantas, 08/05/13 - Privilégio é a palavra que me vem à mente diante do Planeta Jota, com seu conteúdo de altíssimo nível acrescido da maestria do amigo Jomar no trato com as palavras. E, além da generosidade do espaço cedido à Mericó, há também a generosidade dos leitores abertos a estas modestas narrativas, dentre os quais se encontra o amigo, professor e filósofo, que também escreve para um jornal paraibano, Carlos Hugo.

Jomar Morais, 09/05/13 - Aldenir amigo, Mericó conquistou a maioria dos que visitam o Planeta Jota. Isso não me surpreende, considerando a qualidade do que você produz, seja em prosa ou em versos. Parabéns.

Marcel L., 15/05/13 - Delicioso, esse conto de Aldenir.

José Costa Junior Duda, 25/05/13 - Caro Aldenir Dantas. Lí seu texto, gostei muito, pelo que lhe parabenizo. Interessante algumas semelhanças entre as palavras Mericó e Mossoró. Ambas terminam em ´´o´´ acentuado, iniciam-se por ´´M´´ são tri-silabas e a designação de seus nativos terminam em ´´enses´´. Sim, porque Poderiam ser denominados Mericoanos, assim como os nascidos em terras de São Paulo, são denominados paulistanos. E ainda por cima, nos parece que, encravada no sertão nordestino, conservando a fibra e os bons costumes daquele povo. Mera coincidência, ou Mericó adotou os bons exemplos do país de Mossoró? rsrsrsr abraços

Aldenir Dantas, 26/05/13 - É, meu caro José Costa Junior Duda, na Literatura há um fato interessante: os leitores são sempre coautores. Partindo desse princípio, Mericó é quem você quiser que ela seja rsss. Mas, a partir da pertinência das suas observações, sou forçado a reconhecer que Mericó é irmã de Mossoró. Aquela irmã pobre que ficou meio parada no tempo... rsss. Valeu, amigo. Obrigado, abraço, saúde e paz.

Débora Raquiel, 26/05/13 -  Pasma aqui!!! Como Aldenir é o máximo!!! Perfeito!!!!
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