Dezembro/2008
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Na ponte Pyrmont, JM observa o velho Darling Harbour transformado em pólo de lazer no centro de Sidney. O cenário do passado foi invadido pela paisagem futurista da grande torre e do monotrilho
Tão longe, tão linda!
Jovial e irreverente, a Austrália combina belezas naturais, tecnologia e
qualidade de vida e se torna o destino preferido do resto do mundo
por Jomar Morais
Naquele fim de tarde de verão, eu ainda sentia os efeitos do jet lag, a fadiga provocada pela mudança de fuso horário após muitas horas de vôo, quando a visão de um colosso arquitetônico fez-me perder, talvez por um segundo, a sensação de pisar o chão e caminhar com o meu próprio esforço. À minha frente um dos mais belos cartões postais do mundo: a Opera House de Sidney, na Austrália, o monumental teatro de mais de 100 milhões de dólares, cujo traçado lembra os veleiros ingleses que ali aportaram há mais de 200 anos.  A Opera House é um símbolo da saga australiana. É a evocação simultânea da audácia dos desbravadores, das raízes de um país longínquo e solitário e da tragédia étnica dos aborígenes - os nativos praticamente dizimados pelo branco europeu.

O edifício suntuoso, que abriga cinco teatros e 1 000 divisões, foi erguido no mesmo lugar da cabana onde um dia Benalong, o aborígene que teria renegado sua cultura, viveu e conheceu o fausto e a desgraça no século XVIII. Seduzido pelas benesses do colonizador, Benalong chegou a ser recebido na corte, em Londres. Mas acabou como um pária entre os seus, deprimido e vencido pelo alcoolismo.
Ir logo à Opera House é um jeito impactante de iniciar a visita a essa terra de surpresas. A Austrália é uma experiência inesquecível. E isso vale uma reportagem de primeira linha, que infelizmente já não me disponho a escrever, por doce preguiça, nesta minha nova vida de aposentado do jornalismo e apaixonado pelas rotas mochileiras. Estive na Austrália e na Nova Zelândia em janeiro passado e, na ocasião, fui convidado pela revista Viagem e Turismo, da Abril, - minha última base de atuação profissional, até 2006 - para escrever um texto sobre o périplo. Abri mão do convite honroso. Sinto-me, no entanto, no dever de compartilhar alguns momentos dessa experiência com os amigos que há anos me prestigiam neste website Planeta Jota. E o faço agora da forma mais simples, oferecendo-lhes essas breves recordações e dicas.
O que veremos a seguir é parte do que eu havia preparado anteriormente. Uma pane no micro deletou o relato e as fotos já editados. Agora, às vésperas de embarcar para uma nova aventura, dessa vez pela Colômbia e a Venezuela, tento o possível. Primeiro falemos sobre o périplo australiano. Na próxima edição, será a vez da maravilhosa Nova Zelândia.
Opera House, o teatro cuja arquitetura lembra os navios dos colonizadores
Simpáticos cangurus, símbolos da Austrália
Parque das Blue Mountains: um refrigério no calor forte do verão
A Austrália é:
* Agitos em Sidney e Surfers Paradise
* Arte em Brisbane
* Budismo em Wollongong
* Tédio em Canberra
* Galeras brasileiras
Os pubs seduzem a
juventude descrente
E as igrejas fazem de
tudo para atrair fiéis
O luxuoso Shopping Center Queen Victoria
Fim de tarde junto à
Harbour Bridge

No alto da Sidney Tower, vista da cidade e cinetour em três dimensões pela Austrália
SIDNEY
 
A cidade de arquitetura exuberante tem trânsito organizado e um diferencial de dar inveja a quem mora em qualquer cidade brasileira de mesmo porte: uma enorme quantidade de parques e áreas verdes equipados com bancos, banheiros públicos limpos e água potável, um dos muitos sinalizadores da alta qualidade de vida de seus habitantes. Sidney lembra Toronto, no Canadá, o que não é mero acaso. Canadá e Austrália foram colonizados pelos britânicos e hoje integram a commonwealth do Reino Unido, a comunidade dos países que um dia integraram o vasto império dos ingleses. Suas ruas têm até as árvores de Maple, com aquela folha naturalmente “estilizada” que ganhou status de símbolo nacional na bandeira canadense.
Os jovens estão em toda parte e ajudam a manter o clima festeiro que a cidade exala o tempo inteiro em suas praças, pubs, restaurantes (alguns até aceitam que o cliente leve a bebida) e lanchonetes. Nas altas horas, infelizmente o número de pessoas embriagadas e drogadas aumenta em áreas como o centro, Chinatown e Darlinghurst. Ainda assim, Sidney pode ser considerada uma cidade segura, com presença ostensiva da polícia  e  câmeras  em  muitas  regiões. Tive a
BLUE MOUNTAINS

Este parque nacional (eles são 10 mil na Austrália!) é uma ótima opção para um dia de relax e contato com a natureza, a 1 100 metros de altitude, sem se afastar muito de Sidney. O azul do nome vem da constante neblina que reflete o azul do espectro solar. As grandes atrações estão na região de Katoomba, uma cidadezinha que no passado abrigou uma indústria mineira de carvão. São espécies nativas, cachoeiras, pedras esculpidas pela natureza (como a das Três Irmãs e a do Cachorro) minas desativadas, trilhas e um teleférico que une duas montanhas. Pode-se chegar de trem ou de ônibus, pagando em torno de 10 dólares. Mas o melhor é contratar um tour de um dia, com direito a almoço, visita à Vila Olímpica que fica no caminho (lembre-se: a Austrália sediou as Olimpíadas de 2000) e volta a Sidney de barco pelo rio Parramata, a partir da metade do trajeto. Contratei tudo isso por 60 dólares, sem sair do hostel. O ônibus confortável me pegou na porta.
Coala do parque das
<< montanhas azuis
JM e o aborígene: música com o didgeridoo,
instrumento feito de tronco de eucalipto
As pranchas transformadas em monumentos
não deixam dúvidas: Surfers é um lugar onde se curte ondas >>




O bungee jumping a 120 metros do chão virou um rito de passagem para os << visitantes
SURFERS PARADISE

Ao contrário do que parece, esta não é a melhor praia australiana para a prática de surf e sim um balneário da cidade de Gold Coast, a cerca de 600 quilômetros ao norte de Sidney, que caiu no gosto do mundo e também de jovens mochileiros. Sua infra-estrutura turística é impecável. O local é uma festa para visitantes de todos os níveis. Hotéis, restaurantes, bares, boates, agito nas ruas, bungee jumping, carrões da década de 60 modificados e... escolas de surf para honrar o nome do local.

Além da praia, nem tão bela assim, vale curtir o fim de tarde nos calçadões, onde artistas populares percorrem galerias animando a clientela com boa música. Não pousei em Surfers. Preferi alojar-me em Brisbane, 100 quilômetros adiante, e peguei um dos muitos ônibus diários que ligam a cidade à Golden Coast. Aqui, a natureza presentou a Austrália com um outro cenário paradisíaco: os mais de 400 quilômetros de canais navegáveis que se espalham dentro e no entorno da cidade, conhecida por seus muitos parques temáticos. A população local é de 376 mil habitantes, mas a cidade acolhe 2 milhões de visitantes por ano.
A arte de Andy Warhol é um dos destaques na
imperdível Galeria de Arte de Queensland
BRISBANE

Ela é uma das queridinhas dos australianos. Todos querem viver aqui. Tranqüila, apesar de seus 1,5 milhões de habitantes, a cidade transpira arte, cultura, juventude e celebrações às margens do rio Brisbane, que serpenteia por seus bairros. É um destino ideal para quem curte a vida noturna, museus, teatros e raves. Um endereço imperdível é o complexo Centro Cultural de Queensland (o estado onde está a cidade), que reúne museus, a Galeria de Arte de Queensland, teatros e tem como vizinho o South Bank Parkland, uma enorme área verde à beira rio, com direito a piscinão, restaurantes e um pequeno templo budista (pagode). Apesar das 13 horas de duração, é melhor viajar de ônibus a Brisbane, a fim de aproveitar a linda paisagem do litoral ao norte de Sidney.
O majestoso cassino de Brisbane apresenta shows de primeira linha com entrada grátis
Casarões e edifícios dos séculos XVIII e XIX
foram preservados no centro de Brisbane
CANBERRA

A capital da Austrália é uma cidade projetada, como  a nossa Brasília. Foi construída para por fim à disputa política entre as eternas rivais Sidney e Melbourne e recebeu um nome aborígene que significa “lugar de encontro”. Como Brasília, está numa área de cerrado e clima quente e seco. Não é de estranhar que também tenha um lago artificial. E que tenha uma vida tediosa para a expectativa do turista. Ainda assim vale a pena visitá-la (ela está a apenas 3h30m de Sidney, de ônibus) e conhecer suas duas principais atrações: o bilionário e esquisito complexo arquitetônico do novo Parlamento e o Museu Nacional. No topo do mastro da bandeira, no Parlamento, há um mirante de 360 graus com vista total da cidade.

O novo Parlamento Australiano,  em Canberra:
obra de 1 bilhão de dólares e supermirante

Farol de Wollongong:  uma opção para o fim
de tarde diante das águas do oceano Pacífico
Templo Nan Tien: nas paredes do salão
principal 10 000 budas esculpidos
WOLLONGONG

Aos poucos, esta pequena cidade a 80 quilômetros de Sidney vai deixando no passado suas indústrias e abrindo os braços ao turismo. É possível alcançá-la em 1h30 de viagem de trem (7 dólares) e passar um dia agradabilíssimo em suas praias tranqüilas, deliciando-se com o cenário da baía e da marina junto ao velho farol. Ou, então, optar pelo desbravamento das escarpas Illawarra no outro extremo da cidade. Fui lá, no entanto, para conhecer uma atração imperdível na estrada entre Wollongong e Berkeley: o templo Nan Tien, o maior templo budista do hemisfério sul, mantido por monges chineses. Espalhados entre jardins japoneses deslumbrantes existem, além do templo, um pagode, esculturas em tamanho natural de budas e monges em diferentes posturas, restaurante e um pequeno, mas confortável, hotel para quem vai fazer retiro. Não deixe de subir as escadarias que levam ao pagode. Aproveite para meditar sob árvores ao lado de um dos muitos budas em pedra sabão. Para chegar ao templo, pegar o ônibus nº 34, para Berkeley, junto ao Crown Street Mall (4 dólares) e pedir ajuda ao motorista.
GALERA BRAZUCA

É difícil circular em Sidney sem ouvir pelo menos uma palavra em português. O idioma oficial da Austrália é o inglês, mas a cidade cosmopolita exibe nas ruas a sua babel com diálogos em chinês, japonês, coreano, hindi (indianos), espanhol, árabe... São estudantes e outros jovens que chegaram para ganhar a vida num país que, até há pouco, tinha escassez de mão-de-obra e escancarava as portas da imigração. Os brasileiros batem ponto em toda parte. Muitos são veteranos, como a carioca Kátia di Bello, que chegou a Sidney há 25 anos. Seus filhos e o ex-marido australiano são donos da Pizzaria Mario, onde se come uma das melhores pizzas da cidade. A fé também reúne brasileiros. A paraense Gloria Collaroy, há 23 anos no país, fundou a Franciscans Spiritist House, um centro espírita que é também ponto de encontro de brasileiros na  1 Lister Avenue, em  Rockdale, na região metropolitana de Sidney. Além de reuniões de caráter religioso, com base na Doutrina Espírita, são realizados no local almoços e outros eventos de confraternização, cujas rendas beneficiam instituições de assistência social no Brasil. Convidado por Gloria, dei uma palestra para os freqüentadores do centro e fui depois homenageado com um almoço repleto de carinho brazuca.
 
Lanchonete brasileira em Surfers Paradise:
aqui tem até coxinha e guaraná Antárctica
Franciscans Spiritist House: Espiritismo
à brasileira para brasileiros
Onde fiquei na Austrália
Em Sidney
The George, hostel em Chinatown: US$ 45
Em Brisbane
Palace Backpackers,
no centro: US$ 28
Onde comi barato:
nos restaurantes orientais a quilo do Market City, em Chinatown, Sidney
Traslado/aeroporto:
trem (US$ 11), van (US$ 15)

Sidney vista do rio Parramata: o passeio por
baías e rios da área encantam o turista


sorte de estar na cidade no Australia Day, 26 de janeiro, data em que se comemora a descoberta do país com espetáculos de luz e fogos, shows no Circular Quay e no The Rocks (área que preserva as construções erguidas pelos britânicos no século XVIII) e muita gente nas ruas. Mas em todos os dias de verão os parques da cidade estão repletos de gente e atrações. Sidney é uma cidade que nos convida a caminhar - e eu cheguei a caminhar 8 horas num único dia -, mas para quem quer agilidade e conforto, há um bom serviço de trens urbanos e ônibus nem sempre baratos. Na área central, um  moderno monotrilho, espécie de metrô suspenso, une áreas de lazer e de comércio.


No ritmo do Canguru
Algumas imagens da Austrália, um país que
seduz o mundo com natureza e modernidade
A Pedra do Cachorro,
escultura da natureza >>


O brilho de Sidney
Imagens de Sidney, uma metrópole de muitas
atrações,principalmente para os jovens


Veja aqui o fantástico Nan Tien, o maior templo budista do hemisfério, em Wollongong
Colosso budista


JM (à dir.) com a carioca Kátia e seus filhos na pizzaria da Bourke Street Surry Hills
Lanchonete brasileira em Surfers Paradise:
aqui tem até coxinha e guaraná Antárctica
Uma bela manhã na FSH
Confraternização com os brasileiros da
FSH, que me acolheram com carinho
Brisbane: concreto, arte, arquitetura funcional
e poluição das águas dos rios
Leia também os relatos dos mochilões de Jomar Morais na Índia, Grécia, Colômbia, Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Estados Unidos,
Marrocos, Portugal, Espanha, Itália, Suiça, França, Venezuela, Uruguai, Argentina, Ilha da Madeira, México, Bolívia, Cuba, Turquia,
Nepal, Israel e Palestina, Albânia, África do Sul, Moçambique

12/2008
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Ano 23                                                                                                              Editado por Jomar Morais
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